Ao pesquisar na net as actividades culturais existentes em Ispra, deparei-me com uma sessão de cinema alternativo, organizado pelo clube “Donne de l’Europa”. Eu percebi logo que era um clube dirigido por mulheres, mas quando o Biagio viu que era o único homem na sala, ficou preocupado… e eu também, a pensar porque raio tinham posto o anúncio na internet se era reservado só ao clube, até que apareceu mais um corajoso. No final do filme, começou o suposto debate, mas também para mim eram demasiadas mulheres na mesma sala, daquelas que interrompem as outras quando se querem fazer ouvir. Saímos antes de acabar. Apesar disso, o filme valeu a pena. “Osama” conta a história de uma menina afegã de 12 anos que é obrigada a disfarçar-se de rapaz para ganhar o sustento da casa, composta por ela, pela mãe e pela avó (os homens morreram nas guerras), na altura em que os Taliban estavam no poder. O filme começa com uma frase de Nelson Mandela: “Posso perdoar, mas não posso esquecer”. E há tanto que perdoar! Osama arranja trabalho numa loja perto de casa mas entretanto é levada juntamente com os outros rapazes para a escola, onde aprendem o Alcorão, têm treino militar e aprendem outras lições de comportamento. Os outros rapazes desconfiam que ela é uma rapariga e, apesar de ela ser ajudada por um miúdo órfão e mendigo que sabia desde o início quem ela era, acaba por ser apanhada, é castigada e presa. Num tribunal de homens que pregam a justiça que lhes convém, enterram até ao pescoço e atiram pedras a uma suposta mulher adúltera, matam um jornalista estrangeiro e perdoam Osama… um perdão que vem com um casamento forçado.
O filme acaba sem um vislumbre de esperança e com aquela ideia na cabeça “Mas como é que isto é possível acontecer?”. Aconteceu, não há muito tempo, ainda acontece nalguns cantos do mundo. E eu sou testemunha, distante, mas ainda assim consciente.
Relembro agora os pedaços da História que eu tenho tido a possibilidade de viver, mesmo sendo só espectadora. Lembro-me da libertação de Nelson Mandela e da primeira vez que pesquisei o significado de “Apartheid”. Lembro-me do massacre no cemitério de Díli, do carismático Xanana Gusmão e do nascimento de Timor Lorosae. Lembro-me da queda das Torres Gémeas, a que assisti em directo pela televisão, do ataque à discoteca em Jacarta. Lembro-me de Yasser Arafat, da Guerra do Golfo, dos rockets a cair em Israel e das tropas israelitas na Faixa de Gaza. Lembro-me da entrada de Portugal na CEE (havia até uma música alusiva a isso) e da entrada do Euro. Lembro-me da Guerra no Iraque sob o pretexto das armas de destruição massiva. Assisti em directo à eleição do primeiro presidente americano preto, Barack Obama. Lembro-me da mediatização das Alterações Climáticas e da introdução do “Desenvolvimento Sustentável”. Assisti ao desenvolvimento acelerado dos computadores, dos telemóveis e dos automóveis. Em 30 anos de vida, tive que ganhar a capacidade de me adaptar constantemente e aprender a assimilar tão grandes acontecimentos. Eu e todos os outros que fazemos parte da história da Humanidade.
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