No dia 23 de Julho passado, a Comissão Europeia lançou uma proposta para regulamentar a comercialização de produtos derivados de focas, sugerindo a proibição de produtos resultantes de mortes dolorosas e cruéis.
Todos os anos, em Fevereiro, centenas de caçadores reúnem-se no Canadá e perseguem as focas que nasceram há poucos meses, ainda de pêlo branco. As focas são mortas à paulada e esfoladas no local, deixando as carcaças ensanguentadas no local. Por vezes a paulada só chega para as atordoar e a pele é retirada enquanto o coração das focas ainda bate, porque a competição é grande e o governo canadiano só abre a caça durante alguns dias. 300 mil focas bebé morrem todos os anos para alimentar um mercado parco e pouco rentável.
Todos os anos, por esta altura, fico assombrada com a crueldade que o ser humano é capaz de infligir. Não é pelo facto de caçar e criar animais para comer, isso não me choca. Carnívoros comem herbívoros, diz a ciência. É caçar e criar animais com métodos impiedosos, como se ainda acreditássemos que os animais não sentem dor ou fingimos que isso não importa. É matar animais dos quais não se depende para sobreviver, mas porque se gosta de vestir roupa de uma pele específica (chinchila, arminho ou vison), porque se gosta de usar uma pulseira ou ter um enfeite de marfim em casa (elefante) ou simplesmente porque se gosta de caçar.
Não ponho em causa a necessidade de o fazer em situações específicas. Os Inuit dependem das focas e das baleias, algumas populações restritas em África dependem do turismo de safari. Quem tem fome e não tem outra alternativa, caça o que houver. Mas os canadianos, dinamarqueses, finlandeses, suecos e americanos precisam disso? O rendimento que esta caça lhes traz é imprescindível para o seu agregado?
Uma das justificações utilizadas baseia-se no facto desta actividade fazer parte da cultura do país. Uma tradição que se deve manter porque pertence à identidade de um povo. Assim como nós evoluímos como pessoas ao longo do tempo e alteramos os nossos comportamentos consoante as nossas preferências e necessidades do momento ou idade, também a cultura sofre este processo de evolução, numa escala de tempo mais prolongada. A cultura evolui porque cada um de nós tem a possibilidade de escolher, mesmo que por vezes de forma limitada pelas ingerências e normas da sociedade. Escolhemos o que faz mais sentido e aquilo que mais nos preenche enquanto seres humanos, enquanto pessoas, acrescentando um pouco de nós a esta cultura que, afinal, tem sido construída ao longo do tempo por pessoas como nós.
http://www.ifaw.org/ifaw/general/default.aspx?oid=21446
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