Há alguns dias atrás recebi uma mensagem de uma amiga que ia a caminho da Holanda, que ela designou de forma certeira como a nossa “primeira janela para o mundo”. A Holanda foi o primeiro país estrangeiro que realmente conheci e onde a semente de exploradora/viajante começou a germinar.
Aos 16 anos, participei no Jamboree Mundial para pioneiros, realizado em Dronten, Flevoland. Mas esta aventura de duas semanas não conta porque estávamos num “país” à parte, criado para nós, escuteiros de todo o mundo. Do país Holanda propriamente dito lembro-me de muito pouco dessa altura (lembro-me sim da cerimónia de abertura, do pórtico de caravela que construímos, do slide sobre o rio, do meu namorado americano e do urso de peluche que ele me ofereceu, baptizado de Pedro por uma colega da Costa Rica, dos fogo-conselho internacionais, do hino “I’m from the future” que ressoou nas nossas guitarras e vozes durante os anos seguintes e da choradeira em frente ao autocarro na hora de regressar).
Conheci bem melhor o país Holanda durante os 7 meses que lá vivi enquanto estudante Erasmus. No dia em que eu e a minha amiga lá chegámos sentimos desde a excitação ao desespero. Era final de Agosto do ano 2000 e estava um calor abrasador em Portugal; em Utrecht, a cidade para onde nos mudámos, também estava calor; fomos directamente para os serviços internacionais onde a minha amiga tinha que ir buscar a chave do seu quarto, mas mandaram-nos aos correios para pagar a renda primeiro. Deixámos as bagagens nos serviços e seguimos para os correios onde tratámos do pagamento, mas a nossa (má) orientação no caminho de regresso levou-nos pelo caminho mais longo e quando finalmente chegámos de novo aos serviços, depois de uma molha descomunal – o calor transformou-se em chuva - e de passarmos em frente ao edifício em U invertido que a minha amiga achou horrível, afirmando convictamente que não gostaria de morar ali, “batemos com o nariz na porta”, com as nossas bagagens e a chave de casa da minha amiga fechadas lá dentro. Estávamos num país estranho, perdidas, sem bagagens e sem casa.
Ahhhhhhhhh! Desespero!
Pensámos em telefonar para o 112, mas não iria resolver nada. Pensámos em dormir numa pensão, mas os florins eram poucos (ainda não tínhamos o Euro). De repente lembrei-me que tinha o contacto da casa que eu iria partilhar com holandeses… e ligámos. Do outro lado da linha, depois de eu me apresentar no meu inglês enferrujado, responde-me uma voz: “Pode falar português, eu percebo, minha mãe é brasileira”. A salvação desceu do céu em sotaque brasileiro, juntamente com as indicações para chegar à minha casa, toalhas e roupa de cama emprestadas e um sorriso que nos encheu de esperança. A aventura tinha acabado de começar.
Foi aí que aprendi a apreciar as coincidências. Foi aí que aprendi que todas as peripécias nos ajudam a crescer e a resolver problemas, no momento ou no futuro. A primeira janela para o mundo tinha acabado de se abrir, depois do esforço inicial...
Ah, é verdade; no dia seguinte, depois de recuperarmos as bagagens, seguimos para a casa da minha amiga, a horrorosa casa em U invertido que tínhamos avistado no dia anterior… Acabou por ser um óptimo abrigo e um bom local para festas temáticas. Cambridgelaan 241 foi um verdadeiro sucesso.
Obrigada Bernardete, por todas estas aventuras que temos partilhado!
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