terça-feira, 22 de novembro de 2011

Nápoles


Detestei Nápoles da primeira vez que lá passei, há uns anos atrás. Exactamente naquele dia a equipa de futebol da cidade tinha ganho o jogo e com isso subiu de divisão, o que se traduziu em festa... ou melhor, numa algazarra tal que os transportes públicos pararam e as estradas encheram-se de adeptos vestidos de azul e branco e de vespas (motorini) buzinantes. Ora, quem queria ir do porto até à estação central tinha que ir a pé, arrastando a mala pelas pilhas de lixo e evitando por milímetros ser atropelada por um dos motorini. Razão suficiente para não gostar daquela cidade.
  
 

A segunda impressão, este fim-de-semana, foi diferente. Continua a ser a cidade caótica que se espera, a estação central é uma bagunça, o trânsito infernal, o lixo amontoa-se junto aos caixotes. E há pessoas estranhas que te miram de alto a baixo de forma assustadora. Mas há uma autenticidade mediterrânica que não se encontra nas cidades do norte de Itália; a verdadeira Itália - a mesma do filme "Gomorra" e "Benvenuti al Sud", vive nas ruas estreitas de prédios sem reboco onde os vizinhos partilham o estendal de parede a parede, nas pessoas bonitas de tez escura queimada pelo sol e olhos claros, na simpatia dos locais de sotaque cerrado e "sch" como o português, e na "vera pizza napolitana", naquela pizzaria que a Liz do livro "Comer, Orar, Amar" tornou ainda mais famosa e onde o tempo de espera ultrapassa a hora ("Da Michele", caso queiram saber).

 
Tempo de espera para experimentar a pizza napolitana no local mais antigo de Itália
Em Nápoles descobri ruas cheias de presépios, uma verdadeira arte local, e muitas lojas de vestidos de noiva, feitos à medida para os VIP que lá vão. Visitei ruínas medievais e romanas, escondidas nas catacumbas de uma basílica. Descobri o Babá (yummy), a Sfogliatella  e aprendi a fazer limoncello, para um dia experimentar.

Nas catacumbas romanas da Basílica de São Lorenzo Maggiore
Figuras de presépio originais: o pizzaiolo, a padeira, o lenhador...
Babá, massa tipo pão-de-ló (chamam-lhe pan di spagna) com rum e creme de limão


quinta-feira, 10 de novembro de 2011

A imaginação dos ladrões

Imaginem o que é chegar a casa e descobrir que alguém desconhecido entrou, remexeu e levou. O anel de ouro, o computador portátil, a máquina fotográfica, a moldura digital, o telemóvel já não estão no sítio do costume... É uma sensação terrível, que faz a revolta crescer. A nossa casa revirada do avesso, o nosso porto de abrigo ocupado, a nossa história pendurada das paredes e espalhada pelos objectos da casa à mercê de um desconhecido, a nossa privacidade violada... 

Aqui em Ispra e arredores, infelizmente, há muitas pessoas que podem partilhar esta sensação, eu incluída. Não tem a fama de Nápoles ou da Sicília, mas as estatísticas não são favoráveis. Ontem, em 25 minutos, o ladrão partiu a janela dupla da casa, revirou o quarto, a casa-de-banho e a sala com as mãos enfiadas em sacos de plástico para não deixar vestígios e teve que fugir pelo jardim e saltar a cerca quando ouviu a dona da casa chegar, mais cedo do que esperava. Só teve tempo de pegar na máquina fotográfica escondida na estante dos livros e sair pela janela por onde entrou, partindo as luzes do jardim no caminho para não ser visto. A dona da casa, ao reparar na janela danificada, liga para uma amiga a pedir ajuda, acreditando que o ladrão ainda pode estar em casa porque o tempo que ela esteve fora não parecia ser suficiente para tanto estrago. E entram ambas corajosas em casa, com uma vassoura na mão prontas para dar umas pauladas nas costas do atrevido. Não, o ladrão já não estava em casa e a dona da casa lembrou-se então que o seu cão, quando chegou a casa com ela, correu como uma flecha para o fundo do jardim. Não sei se ele teve algum encontro imediato com o intruso, mas mesmo se tivesse tido de certeza que a doçura deste cão não lhe iria morder como ele merecia... há cães que não são feitos para guardarem uma casa.

Feitas as primeiras vistorias para verificar o que está fora de sítio, chamam-se os Carabinieri. Chegam surpreendentemente rápido, poucos minutos depois, entram pelo portão e ao verem o cão, diz um deles: "Tenha cuidado com o cão porque ele pode sujar a farda"... sim, é nisso mesmo que pensamos quando a nossa casa acabou de ser roubada, na limpeza da sua farda. Vêem a janela partida e dizem "Che bravi ladri"! Sim, de facto merecem um elogio por terem destruído uma janela alheia. Olham para a desarrumação da casa, observam a janela e fazem algumas perguntas, um deles senta-se à mesa para preencher o auto enquanto o outro verifica o jardim e a cerca por onde suspeitamos que o ladrão tenha fugido. Entretanto a pergunta ingénua: "E impressões digitais, não tiram? - A senhora anda a ver muitos filmes", responde um deles. No final acabaram por levar um pedaço do vidro da janela onde se viam umas dedadas e um dos sacos de plástico que o ladrão usou para remexer as coisas, provavelmente só para nos impressionar.  

Os casos de furto nesta terra escondida nos Alpes sucedem-se. O pior episódio foi contado por uma colega espanhola cuja casa foi assaltada enquanto ela estava a dormir. Naquela noite os ladrões decidiram assaltar três casas daquele condomínio. Pegaram na broca de madeira manual, furaram as molduras das janelas e lançaram um gás para dormir para dentro de casa. Depois entraram pela janela entretanto partida ou arrombada, remexeram a casa, entrando inclusive no quarto onde os moradores dormiam e passando pelo cão adormentado, pegaram no portátil, no ouro, no dinheiro que encontraram e depois saíram calmamente. Numa das casas assaltadas, foram ao frigorífico e comeram e beberam o que lá havia, deixando para trás o lixo. Acordar e perceber que um intruso esteve em tua casa a mexer nas tuas coisas enquanto tu também lá estavas é uma sensação ainda pior. Que fez a minha colega mudar de casa logo que pôde porque, apesar de dizerem que o ladrão nunca volta ao mesmo sítio, a segurança do "nosso porto de abrigo" já não é a mesma.  

Se os ladrões usassem a sua imaginação para coisas benéficas, o mundo seria com certeza um lugar melhor.


sábado, 5 de novembro de 2011

Novo visual

Se passaste por aqui já percebeste que eu, o blog que estás a ler, mudei de visual. Digamos que fiz uma renovação superficial para dar um novo ar a este espaço, mantendo no entanto, intactos os princípios e o tipo de conteúdos que guardo. Porque me apetece transfigurar a minha forma de expressão, uma maneira de reagir às mudanças a que a própria vida me obriga de vez em quando.

Sê bem-vindo a este velho-novo blog!