sexta-feira, 7 de setembro de 2012

O caminho da recuperação

económica de Portugal parece ser cada vez mais tortuoso. Curiosa com o discurso anunciado do Primeiro-Ministro, sentei-me (des)confortável no meu sofá e esperei pelo momento, astutamente escolhido para uma sexta-feira à tardinha antes de um jogo de futebol. A escolha não foi ao acaso, nada é feito ao acaso em política; o fim-de-semana é de relax para muitas pessoas e o jogo de futebol dá para distrair um bocadinho das más notícias.
Eu não sou economista, mas não preciso de o ser para dar uma opinião sobre um assunto económico que também a mim me afecta. Fundamentada no bom-senso e na informação que recolho das mais diversas fontes. As opiniões dos comentadores dos canais de televisão falam em austeridade clara e na ineficácia da medida para criar emprego, porque o que impede as empresas de o fazerem é a falta de acesso ao crédito, que continua bloqueado.  Outra razão pode ser apontada: a diminuição do consumo e a consequente, embora desfasada, diminuição da produção. O consumo vai continuar a diminuir, com o aumento da contribuição da segurança social para toda a gente e a contínua diminuição do poder de compra.

O Primeiro-Ministro falou na aposta no aumento das exportações como condição essencial para a recuperação económica.  Nem todas as empresas se baseiam na exportação, tanto que a conjuntura económica também não está a ajudar nesse sentido. Este mesmo modelo económico tem sido seguido pelas chamadas economias emergentes como a China e a Índia; dizem os especialistas que esta aposta nas exportações é o caminho mais rápido para obter um crescimento económico significativo. É verdade que ambos estes países têm taxas de crescimento económico mais elevadas que qualquer país europeu, mas uma observação atenta às condições de vida da população no país revela uma verdade distinta: os bairros de lata espraiados ao longo das linhas de comboio, as crianças a pedir nas ruas que partilham com centros comerciais ostentosos, um fosso enorme entre as classes mais baixas – a maioria da população, e as mais altas. Obviamente que esta opção de crescimento traz alguns benefícios, como qualquer outra, mas a partilha dos resultados positivos não é, de forma alguma, equitativa. Basta visitarem um destes países para perceber, tão evidente que é.
As medidas deste governo têm sido escolhidas com um único objectivo: reduzir o défice e cumprir o memorando da troika. Não é a qualidade de vida dos portugueses que orienta a política do governo. Esta atitude de ver apenas o alvo e deixar de notar, ou simplesmente ignorar, as consequências negativas que está a causar, roça a obsessão. Não há espaço para ajustamento, para mudança de estratégia, para alteração de rumo. Os portugueses não têm direito a defesa, apenas a austeridade. Não se mexe na banca, não se toca nos preços dos combustíveis, não se fala nos privilégios dos gestores públicos. Impõe-se aumento de taxas contributivas, porque afinal não é a mesma coisa que um imposto (só em teoria!) e o governo assim está a cumprir o que disse, elogiado efusivamente pelo Presidente da República.
 
Lembra um navio que corre o risco de afundar se continuar àquela velocidade, mas que continua no mesmo ritmo para chegar ao outro lado do Atlântico em tempo recorde. A História conta que afundou.