sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Quando o que vemos é tudo o que existe

deixamos de ter perspectiva. Quando ficamos demasiado tempo no mesmo sítio ou fazemos durante muito tempo as coisas da mesma maneira, começamos a acreditar que aquilo que vemos - que não é muito, é o mundo inteiro. E quando pensamos que o mundo não vai além dos confins da nossa própria bolha, perdemos a capacidade de relativizar. Assumimos que os nossos problemas são os piores que existem, verdadeiras tragédias que nos impedem de tomar atenção às situações dos outros e às soluções que nos oferecem.
Por isso é fundamental sair. Ver, experimentar, sentir. Rebentar a bolha que nos limita e criar outra, uma que abarca mais mundo e que nos deixa ver mais longe, ao mesmo tempo sólida e transparente.  Por isso viajar é tão bom, para tocar outras perspectivas e saborear outras visões da vida. Não é preciso ir ao outro lado do mundo, nem sequer apanhar um avião. Às vezes basta calcorrear o caminho de sempre com a mente aberta aos pormenores, chegar ao sítio do costume por um percurso diverso, olhar aquela pessoa que nos acompanha todos os dias com a curiosidade de uma criança. E as tragédias que nos atormentam acabam por encolher para a sua devida dimensão.
 
"Aquilo que vemos todos os dias transforma-se aos poucos em tudo o que conseguimos imaginar e, já se sabe, aquilo que conseguimos imaginar é tudo o que existe. Se aquilo que nos rodeia é tudo o que existe, os nossos problemas passam a ser os maiores que existem, não importa a real proporção da sua importância. O nosso mundo passa a ser o mundo inteiro (...) Por isso faz tanta falta ir."
 
José Luís Peixoto, VM Fevereiro 2013