quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Morrer por não querer comer...

Uma das  principais notícias de hoje foi o anúncio da morte da modelo francesa Isabelle Caro, conhecida pelas fotos da campanha contra a anorexia que chocou o mundo em 2007. Fotos de uma Isabelle sem brilho no olhar, com a pele rugosa e baça de onde se notavam todos os ossos do seu corpo. Chocante, sem dúvida, e só apetece virar a cara. Um verdadeiro paradoxo se pensarmos que há tantas pessoas que sofrem por não ter nada para comer e outras que morrem devido à fome não porque não tenham comida mas porque se recusam a comer. Não estou a julgar, sei por experiência que a anorexia é uma doença no verdadeiro sentido do termo, que distorce a realidade e a imagem que uma pessoa tem de si própria até ao extremo. Biologicamente, quando se deixa de ingerir determinados nutrientes, depois quando se volta a ingeri-los o corpo tem mais dificuldade em assimilá-los e em transformá-los na energia útil que o organismo precisa. Há muitas variáveis físicas e psicológicas que tornam a anorexia - e doenças afins, tão difíceis de tratar. Não creio que Isabelle não quisesse comer de facto ou não sentisse fome. Tenho a certeza que ela se martirizava todos os dias por não conseguir pegar num pacote de batatas fritas e comê-lo satisfeita e sem sentido de culpa. E lamento por ela. Espero apenas que a sua vida - e a sua morte - sirvam de exemplo na luta contra estas doenças.
 

http://www.publico.pt/Sociedade/modelo-francesa-isabelle-caro-morre-de-anorexia-aos-28-anos-e-31-quilos_1472962

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Há sempre dias maus... e dias bons para compensar.

Ontem
Descobri que o meu carro estava "inundado" e que tinha gotas de águas a escorrer pelos vidros... do lado de dentro. Logo de manhã deixei o carro na oficina e pedi a uma amiga para me ir buscar e levar para o trabalho. No momento em que chegámos decorria uma simulação de acidente nuclear e era proibido entrar. Bolas, agora duas horas à espera, sem carro! Aproveitando a boleia fui para uma terra aqui perto com a minha amiga e pensei em aproveitar estas horas para cortar o cabelo, mas recusei-me a pagar os 50 Euros que me pediram. Cheguei ao trabalho ao meio-dia e já não fui ao Tai-Chi. À tarde um seminário aborrecido, ou seja, comecei a trabalhar a sério às 16h30. Já sem paciência, ligo para a oficina onde me dizem que o meu carro ainda está debaixo de água e que não descobriram por onde entrou a água. Bonito! Fui para casa de bicicleta com um frio de rachar e, claro, a passagem de nível estava fechada e tive que esperar mais um tempinho com 2ºC em cima do veículo sem motor e sem aquecimento. Há dias que, mesmo solarengos, não escapam à categoria de "dias em que não devia ter saído de casa".

Hoje
Nascer-do-sol. Dia de "Team building" num agriturismo. Colegas de trabalho e chefes de avental e chapéu de cozinheiro, todos iguais. 20 pessoas juntas de 9 nacionalidades diferentes a trabalhar para o mesmo objectivo. Camaradagem e partilha da faceta mais pessoal. Lições rápidas e eficazes de cozinha e o primeiro prémio ganho (!!). A honra do "Primitivo", o vinho de 15% da Puglia, quase a desaparecer. Comer bem, sem pressa. Carro arranjado. O último lugar do estacionamento à minha espera. Novo corte de cabelo por metade do preço. Castanhas assadas e vinho Brulê com amigos. Há dias assim, em que apetece festejar.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Viagem à volta de uma ilha

No dia 29 de Outubro eu e a minha amiga Vera deixámos o frio dos Alpes e partimos para a Sicília. A razão principal desta viagem foi o casamento de uma amiga comum em Palermo, de onde partimos para a nossa viagem de exploração desta ilha mediterrânica. Antes de mais, preciso de explicar que eu e a Vera fizemos exactamente aquilo que nos tinham aconselhado para não fazer no sul de Itália (leia-se “a sul de Bolonha”): ir sozinhas (duas mulheres) e conduzir em redor da ilha. Também não reservámos nenhum hotel para essa semana, partimos à aventura. E, mesmo desobedientes, sobrevivemos sem nenhuma mazela e estamos de volta para contar como foi.
Dia 1 – Palermo

A primeira coisa que reparei em Palermo é a diferença em relação ao Norte de Itália. A segunda é que me lembrou as cidades da Índia que visitei e o norte de África que pouco conheço … pode parecer estranha esta comparação mas Palermo tem qualquer coisa de marroquino nas casas castanho-amareladas e meio-acabadas que se amontoam no vale e nas encostas. E tem qualquer coisa de indiano no tráfico intenso que permite 4 carros lado a lado ocuparem duas vias, nas barraquinhas à beira da estrada a vender fruta e legumes, na poluição associada ao calor que dificulta a respiração e no lixo amontoado aqui e além. Esta minha impressão foi depois confirmada por um inglês de origem indiana que só conseguiu conduzir em Palermo quando pôs na cabeça que a cidade era como Deli e não como Londres e que, sendo assim, podia infringir as regras.
Mas apesar de mal aproveitada e negligenciada, Palermo é uma cidade bonita. Tem monumentos deslumbrantes e é cheia de vida. De som, de cor, de cheiros. De pessoas simpáticas com um sotaque particular. De ruas estreitas e sinistras onde o sol não entra mas onde todos que lá vivem se conhecem e se ajudam.


Dia 2 – Cefalú

Cefalú reúne monte, mar e centro histórico bem preservado. Ou seja, um conjunto perfeito para um passeio agradável. Mas rodeado de circunstâncias peculiares alheias à nossa vontade. Como o lindo pôr-do-sol que tivemos a possibilidade de ver… às 5h da tarde! Socorro… para onde foi o dia?
Nessa noite, o vento soprou tão forte que pensámos estar no centro de uma enorme tempestade com muita chuva e trovoada. Puro engano. Era “apenas” o Scirocco, o vento oriundo do Sahara que traz calor e secura. E alguns pós do deserto.


Dia 3 – Cefalú e caminho para Taormina

O caminho entre Cefalú e Taormina não seria nada de especial não fossem os 6 arco-íris que descobrimos. O sol brilhava entre as nuvens cinzentas e abria-nos um caminho de cores. Chegadas a Taormina bem-dispostas, a confusão no tráfico era tanta e foi tão difícil encontrar um hotel em conta que decidimos ficar na terra ao lado, Giardini Naxos, onde o dono do Bed & Breakfast que escolhemos (La Spada) nos explicou ao pormenor como visitar Taormina. A partir daí foi tudo muito fácil e conseguimos explorar de fio a pavio esta cidade de influência grega aos pés do Etna.


Dia 4 - Taormina

Durante a manhã ouvimos um som semelhante a tiros de canhão, espaçados no tempo. Chovia torrencialmente e quase todas as atracções de Taormina são a céu aberto. Talvez o som ribombante fosse o aviso da trovoada. Paciência, lá ganhámos coragem, vestimos os impermeáveis e seguimos caminho. Chegadas lá, a chuva pára e o céu azul chega acompanhado de uma vista soberba sobre o vulcão mais activo da Europa, a fumegar e coberto de neve. Também descobrimos que os “tiros de canhão” eram afinal palavras doces do Etna, apenas para avisar que continua acordado e pronto a explodir.

O Teatro de Taormina foi construído pelos gregos para as suas tragédias (teatro) e mais tarde aproveitado pelos romanos para jogos de gladiadores. Hoje é utilizado para concertos e festivais de cinema. Giovanni, um dos guias do Teatro, explicou-nos estas e outras coisas enquanto subíamos as escadas do anfiteatro e tirávamos fotos ao vulcão. Subimos também ao castelo, bem a pique por um caminho humanizado de escadas de pedra entre cactos cheios de figos. Chegadas à Igreja junto ao castelo, um local preguntou-nos se queríamos provar um vinho “buonissimo” feito por ele. Era meio-dia e estava calor e, por isso, recusámos gentilmente a oferta, apesar da sua insistência. Acho até que a persistência é uma das características dos sicilianos, quando metem na cabeça que têm que nos ajudar e que temos que provar as especialidades da zona são um osso duro de roer!.

Mais tarde visitámos a pequena vila (aliás, minúscula) de Castelmola, no topo de Taormina. A única coisa que encontrámos aberto às 3h da tarde foi um bar com objectos fálicos por toda a parte e uma loja de artigos regionais onde comprámos o vinho de amêndoa típico da região. Uma delícia, devo dizer.


Nessa noite seguimos para Nicolosi, junto ao Etna, o vulcão que decidimos conquistar no dia seguinte.

Dia 5 - Etna

Às 10h da manhã e com um frio de rachar, entrámos no teleférico que leva aos 2000 metros de altitude. A partir dali, o objectivo era chegar o mais alto possível, a esta altura do ano aos 2900 m (demasiado perigoso ir mais alto). Ao início apanhámos um nevoeiro tão cerrado que só víamos 3 metros de estrada serpenteando à nossa frente. Mas de repente, como por magia, o nevoeiro dissipa-se e aparece uma vista deslumbrante sobre o vale ao redor do vulcão e das crateras secundárias, afinal escondidas tão pertinho de nós. Estava tudo coberto de neve mas, mesmo assim, via-se fumo a sair das crateras. No topo, percorremos a cratera e sentimos o calor do interior da Terra nas rochas onde a neve não se mantinha. E nas nossas mãos geladas.


A última grande erupção do Etna ocorreu em 2002. Ninguém morreu, graças ao sistema de vigilância e alerta do parque natural. Mas o teleférico e todas as infraestruturas ao redor foram completamente destruídas, para voltarem a ser erguidas pouco tempo depois. Não se sabe exactamente quando voltará a explodir, mas quem lá vive ou trabalha não se preocupa. Afinal, a paisagem é fascinante e o negócio é muito activo.


Dia 6 – Ragusa Ibla e Agrigento ao pôr-do-sol

Dizem que é “uma ilha dentro da ilha”, porque a máfia não existe em Ragusa Ibla (a parte antiga da cidade de Ragusa). Nem desemprego, nem criminalidade. Mas Vittorio, o funcionário da Câmara que nos ofereceu uns “cannoli di ricotta” e umas histórias sinistras da região, disse pelo contrário que Ragusa é o epicentro da máfia e, por isso, intocável. Até o Khadafi tem a sua casa de repouso lá. Histórias da Camorra à parte, Ragusa Ibla é uma inspiração. Construída em espiral na encosta de um monte, desenhou as suas ruas estreitas de pedra ocre a partir da margem do rio, subindo até comunicar com a modernidade da nova Ragusa. Na praça central, a catedral é uma verdadeira jóia, tanto por dentro como por fora. Construída no tempo do Barroco, exibe pesadas cortinas de veludo vermelho entre as colunas que a sustentam. São Jorge é retratado defendendo a donzela do dragão num quadro simples e colorido.


Caminhámos nas ruas de Ragusa atentas aos pormenores até encontrarmos Vittorio, o empregado da Câmara. Bem que nos tentámos esconder nas esquinas das ruas mais escondidas mas a sua persistência em nos fazer percorrer o mesmo caminho que ele estava a fazer com o carrinho do lixo foi mais forte do que nós e embocámos no jardim onde ele, meia-hora depois, estava a trabalhar. Depois das histórias do seu filho trintão que decidiu comprar um Ferrari por 80 mil euros e o vendeu 6 meses depois e que trocava de namorada todos os 6 meses, decidimos deixar Ragusa e partir para um outro tempo histórico: o dos Gregos, espelhado no Vale dos Templos em Agrigento.

Chegámos mesmo a tempo do pôr-do-sol ao Vale dos Templos, quando as construções gregas que ainda se mantêm mudam de cor e nos transportam momentaneamente para o tempo dos filósofos. Foi o mais perto que me senti da Grécia e das suas conquistas culturais até hoje. Bem que nos tentam ensinar nas aulas de história, mas tocando nas pedras que sobrevivem ao tempo aprendemos muito melhor.


Dia 7 – Museu de Agrigento e Scala dei Turchi (Escada dos Turcos)

Aproveitando a atmosfera impregnada de história antiga que se vive na cidade de Agrigento, visitámos o museu da cidade, constituído por uma colecção gigantesca de achados arqueológicos do Vale dos Templos. Foi um arqueólogo inglês que várias décadas atrás, dedicando a sua vida a desenterrar peças de barro e madeira do solo, que impulsionou a criação da colecção arqueológica e do museu. Dos inúmeros pedaços de história que lá encontramos, os que mais me impressionaram foram os caixões de pedra e mármore ricamente esculpidos com histórias da vida do defunto, que levava consigo alguns objectos para usar na vida além-terrena. Também gostei dos vasos decorativos de fundo preto com personagens míticas gregas pintadas, cuja composição única inclui urina e são considerados uma obra de arte de elevada resistência.

O destino seguinte foi uma praia famosa pela sua falésia de rocha branca, a Scala dei Turchi. Apesar da mudança no aspecto da praia devido às marés de Outono, a falésia oferece um caminho fácil de subir e umas cadeiras naturais sobre o mar que convidam a um momento de contemplação irrepetível. Apenas com o som do bater das ondas e o azul-esverdeado do Tirreno à nossa volta.


Nesta noite ficámos em Erice, uma pequena cidade sombreira a Trapani, onde os castelos dão continuidade à rocha cinzenta onde estão alicerçados.


Dia 8 – Erice, Favignana e Trapani

Erice ainda mantém a estrutura medieval que a tornou famosa. O castelo foi construído na rocha e é dedicado à deusa Vénus (Venere, em italiano). Ruas estreitas de pedra sobem as colinas onde mais de uma dúzia de igrejas se concentram. Pequenas lojinhas inculcadas nas paredes velhas das ruas vendem produtos tradicionais e dão a provar aos turistas as iguarias da região: molho de sardinha, pasta de azeitonas, pistáchios, pasta de amêndoa e, claro, o vinho.

  
Depois da visita obrigatória ao castelo descemos a encosta em direcção a Trapani. Ao longe via-se uma imitação do pão-de-açúcar brasileiro, um monte de cume arredondado sobre o mar, enquanto o centro da cidade se espraiava à beira-mar. Trapani foi, logo aí, uma surpresa. Não é mencionado no TOP10 siciliano mas tem oferta diversificada e atractiva: um centro de ruas comerciais organizadas e com edifícios imponentes, uma marginal longa e ilhas meio-desertas e acessíveis ao largo.


O sol brilhava intenso e decidimos, por isso, visitar a ilha de Favignana, a meia-hora de barco. Atravessámos rapidamente a vila piscatória da ilha, com casas pequenas e monótonas no centro, em direcção à praia no mar Tirreno. Estavam 24 graus. Alguns jovens de bicicleta tinham ocupado parte da praia e sorrateiramente esgueirámo-nos para o canto sul, onde pus a leitura em dia, matei saudades de um mergulho em água salgada sem me gelarem os pés e deliciei-me com o pôr-do-sol. Um final de tarde perfeito para o pré-final de uma viagem inesquecível.


segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Gosto quando me perguntam...

... se sou italiana. Isto significa que o meu italiano melhorou visivelmente nos últimos meses e que o meu sotaque está um bocadinho menos português. Já me disseram que tenho sotaque sulista, da Sardenha (!), por mera coincidência, uma vez que nunca lá pus os pés.
Sempre gostei de aprender línguas estrangeiras. E normalmente quanto mais estranhas melhor, tipo árabe ou hindi. É sempre um desafio fascinante tentar perceber os pedaços de cultura que cada língua revela, como se cada uma delas representasse um modo diferente de ver o mundo. Em árabe o "Olá" é substituido por "Que a paz esteja convosco". Em japonês, antes de os portugueses lá chegarem, não havia nenhuma palavra que exprimisse o "Obrigado", a sua forma de agradecer era outra. O "Obrigado" materializou-se ao longo dos séculos no "Arigato" de hoje em dia. Na Índia "Sim" é "Ha" e o gesto da cabeça que o acompanha é um oito horizontal em vez da recta vertical do Ocidente (eu sei que soa estranho e que se estão a tentar fazer o oito vai parecer absurdo, mas digo-vos que eles fazem este aceno na perfeição!).
No caso do italiano, sendo uma língua latina, as semelhanças com o português são muitas. Mas as diferenças são inesperadas. Uma noite durante um jantar com italianos, uma colega falava do facto que os homens vão muito à "palestra". 5 minutos depois eu não conseguia perceber porque é que se continuava a comentar o facto de os homens irem à palestra.. ora pois, acontece que "palestra" em italiano significa "ginásio". Assim a conversa fez muito mais sentido. Ou o "pane morbido" que encontrei na primeira vez que fui ao supermercado em Itália. Pão mórbido? Mas o que raio quer isto dizer? Ora pois, "morbido" significa "macio" em italiano. Não faço ideia do porquê desta diferença abismal de significado em palavras iguais de linguas diferentes... mas aprendi a conter-me quando tento traduzir directamente uma palavra do português para o italiano quando falo, depois de ter inventado umas quantas palavras novas e ter reparado na cara de espanto dos colegas italianos. Não faz mal, sendo estrangeira posso permitir-me estes percalços... palavra a palavra vou aprendendo.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

“Sou portuguesa, trabalho no Luxemburgo e vivo na Alemanha”

Foi assim que a D. Telma se apresentou quando nos conhecemos por acaso no hotel onde fiquei alojada na cidade do Luxemburgo. Numa situação um bocadinho embaraçosa por me aperceber que os meus 5 anos de francês de escola não me servem para grande coisa quando tenho que perceber e falar em francês a sério. O senhor da recepção perguntou-me qualquer coisa que eu não percebi e a D. Telma, apercebendo-se da situação, perguntou-me, em português, se eu era portuguesa… “Sim!” respondi eu aliviada. “Eu percebi logo pelo seu nome na lista”, disse ela. Abençoados os 2 apelidos tipicamente portugueses que o meu passaporte mostra descaradamente! Um pouco de conversa e descobri que a D. Telma vive no outro lado da fronteira, porque “é mais bonito do que aqui”, segundo ela, e comuta diariamente para este país onde 45% da população é estrangeira. Na cidade do Luxemburgo, 2/3 da população vem de outra parte do mundo, muitos de Portugal. Um verdadeiro “melting pot” cultural que se esvanece nos edifícios modernos que povoam a cidade. Acabei também por descobrir que o senhor da recepção era, afinal, italiano… Ora, podiam ter dito logo, porque enquanto o meu francês está de férias (prolongadas), o meu italiano está bem activo! E foi em italiano que continuei a falar com o recepcionista. Que bom poder comunicar sem me engasgar em cada palavra!


domingo, 3 de outubro de 2010

Norte e Sul

Em Itália, os regionalismos têm um peso enorme. Para o Norte, os habitantes do Sul são simplórios, iletrados, sujos e chamam-se “Terrone”. Para o Sul, os do Norte são os “Polentone” e são sérios, ricos e muito pouco divertidos, praticamente suíços ou austríacos. Os preconceitos e estereótipos continuam a fazer parte do dia-a-dia. É verdade que no sul o clima é mais quente e agreste e os horários são, também por isso, diferentes. Enquanto que no Norte começar a trabalhar às 8h da manhã e ter uma pausa para almoço de máximo 1 hora é normal, no sul antes das 9h é impensável começar a trabalhar e a pausa para almoço é pelo menos de 2 horas. Também é verdade que o Sul é mais pobre e que há muitos migrantes no Norte, mais rico, com mais indústria e mais emprego, melhores infra-estruturas e mais financiamento público visível. Infelizmente estas diferenças e a grande vaga de migração para o Norte começam a trazer consequências perigosas, como o apoio cada vez maior ao partido de extrema direita “Lega Nord”, que pretende a separação entre o Norte e o Sul e o recambiamento de todos os (i)migrantes.
Foi com estes preconceitos em mente que o protagonista do filme “Benvenuti al Sud”, que vi ontem, partiu para uma vila na zona de Nápoles, vestido com um colete à prova de balas e munido da inspiração nortenha de eficiência e seriedade. Depois de algumas peripécias de partir o coco o rir, no final o protagonista descobre que pode ver o pôr-do-sol sobre o mar (em Milão isso não existe), o gosto pelas inúmeras pausas para café, o prazer da comida, a amizade e a boa-vontade de pessoas simples que o ajudam sem pedir contrapartidas. Uma verdadeira lição de vida que ficou no coração do protagonista e da sua família. E para mim uma oportunidade para confirmar que são estas pequenas diferenças que tornam cada sítio único e especial e que só conseguimos apreciar com uma mente aberta e limpa de preconceitos.

Paciência de viajante...


O meu ultimo dia em Portugal desta curta visita foi um rodopio. Não por falta de organização minha mas por más-vontades e acasos alheios. E o facto de não ser culpa minha ainda me chateia mais. Ora, a minha primeira aventura começou com a compra do bilhete de expresso pela internet, supostamente fácil e rápida, que me permitiria evitar a deslocação ao café onde se compra o bilhete. Puro engano. O email de confirmação da compra – ou seja, o bilhete - nunca chegou à minha caixa de correio e o serviço de clientes a quem contactei por telefone a pedir contas disse-me para me dirigir ao agente na Batalha e apresentar a referência que o bilhete ser-me-ia entregue. Outro engano. A senhora do café recusou-se peremptoriamente a dar-me o bilhete porque nunca tinha feito e… não podia ser. “Mas Ò Dona P., se quiser ligue para a rodoviária a perguntar como funciona, eles dizem-lhe como é”. “Ah, não vou gastar dinheiro numa chamada telefónica para a rodoviária…” (!!) Bem, eu entretanto a ver o tempo a passar até me ofereci para pagar o raio da chamada, mas mesmo assim recusou-se a resolver o problema e eu tive que pagar um segundo bilhete para poder embarcar no autocarro. Com o aviso dado: a reclamação iria ser feita em Lisboa logo que chegasse e o agente da Batalha indicado como tendo recusado prestar um serviço.
Mas no meio das confusões e da má-vontade, encontra-se boa gente com vontade de ajudar. Logo a seguir o motorista do expresso, ouvindo as minhas questões sobre o assunto, telefonou aos serviços a descrever a minha situação e a perguntar onde eu me devia dirigir para reclamar o dinheiro do bilhete. Por iniciativa própria. E com um sorriso meu de resposta. A reclamação foi feita e recebi um bilhete sem data entre Lisboa e Batalha para usar quando quisesse. Apesar de tudo correu bem, não fosse o tempo perdido e a consciência que a má-vontade causa muitos obstáculos desnecessários…
Já em Lisboa, e à boa maneira da Sandra pelintra, apanho o autocarro desde a Tapada da Ajuda até à Baixa, onde esperava apanhar o metro da linha azul para chegar a Sete Rios. Para poupar 3 euros (a diferença em relação ao táxi) fui todo o caminho em pé, num autocarro cheio de gente e com um calor insuportável, parando em todas as paragens existentes, para chegar à estação de metro e descobrir que a linha azul estava interrompida. Bolas! Tive que gastar o mesmo dinheiro num táxi desde a Baixa, mais o dinheiro que paguei no autocarro… mas felizmente encontrei um taxista simpático que conhecia a Batalha e a Nazaré e que me foi entretendo pelo caminho. Depois destas correrias todas, cheguei ao aeroporto quase sem fôlego para ficar a saber que o avião estava atrasado. Uff… paciência de viajante tem limites!

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Sou fã...

Fango (Jovannoti)
http://www.youtube.com/watch?v=Kh_Ss8sJacU&feature=channel

Io lo so che non sono solo
anche quando sono solo
(Eu sei que não estou só, mesmo quando estou sozinho)
io lo so che non sono solo
io lo so che non sono solo
anche quando sono solo
sotto un cielo di stelle e di satelliti
tra i colpevoli le vittime e i superstiti
un cane abbaia alla luna
un uomo guarda la sua mano
sembra quella di suo padre
quando da bambino
lo prendeva come niente e lo sollevava su
era bello il panorama visto dall'alto
si gettava sulle cose prima del pensiero
la sua mano era piccina ma afferrava il mondo intero
(a sua mão era pequena mas agarrava o mundo inteiro)
ora la città è un film straniero senza sottotitoli
le scale da salire sono scivoli, scivoli, scivoli
il ghiaccio sulle cose
la tele dice che le strade son pericolose
ma l'unico pericolo che sento veramente
è quello di non riuscire più a sentire niente
(O único perigo que sinto verdadeiramente,
É o de não conseguir sentir mais nada)
il profumo dei fiori l'odore della città
il suono dei motorini il sapore della pizza
le lacrime di una mamma le idee di uno studente
gli incroci possibili in una piazza
di stare con le antenne alzate verso il cielo
io lo so che non sono solo
io lo so che non sono solo
anche quando sono solo
io lo so che non sono solo
e rido e piango e mi fondo con il cielo e con il fango
io lo so che non sono solo
anche quando sono solo
io lo so che non sono solo
e rido e piango e mi fondo con il cielo e con il fango
la città un film straniero senza sottotitoli
una pentola che cuoce pezzi di dialoghi
come stai quanto costa che ore sono
che succede che si dice chi ci crede
e allora ci si vede
ci si sente soli dalla parte del bersaglio
e diventi un appestato quando fai uno sbaglio
un cartello di sei metri dice tutto è intorno a te
ma ti guardi intorno e invece non c'è niente
un mondo vecchio che sta insieme solo grazie a quelli che
hanno ancora il coraggio di innamorarsi
(um mundo velho que ainda se segura apenas graças
àqueles que ainda têm coragem de se apaixonar)
e una musica che pompa sangue nelle vene
e che fa venire voglia di svegliarsi e di alzarsi
smettere di lamentarsi
che l'unico pericolo che senti veramente
è quello di non riuscire più a sentire niente
di non riuscire più a sentire niente
il battito di un cuore dentro al petto
(O bater do coração dentro do peito)
la passione che fa crescere un progetto
(A paixão que faz crescer um projecto)
l'appetito la sete l'evoluzione in atto
l'energia che si scatena in un contatto
(A energia que se desencadeia num contacto)
io lo so che non sono solo
anche quando sono solo
io lo so che non sono solo
e rido e piango e mi fondo con il cielo e con il fango
io lo so che non sono solo
anche quando sono solo
io lo so che nn sono solo
e rido e piango e mi fondo con il cielo e con il fango
( e rio e choro e me fundo com o céu e com a lama)


Mi fido di te (Jovannoti)
http://www.youtube.com/watch?v=LvG12qnnY_g

Case di pane, riunioni di rane
vecchie che ballano nelle cadillac
muscoli d'oro, corone d'alloro
canzoni d'amore per bimbi col frack
musica seria, luce che varia
pioggia che cade, vita che scorre
cani randagi, cammelli e re magi
forse fa male eppure mi va
(talvez faça mal mas mesmo assim quero)
di stare collegato
(estar ligado)
di vivere di un fiato
(viver de um fôlego)
di stendermi sopra al burrone
(estar sobre uma ravina)
di guardare giù
(e olhar para baixo)
la vertigine non è
paura di cadere
(a vertigem não é medo de cair)
ma voglia di volare
(mas desejo de voar)
mi fido di te
(confio em ti)
io mi fido di te
ehi mi fido di te
cosa sei disposto a perdere
Lampi di luce, al collo una croce
la dea dell'amore si muove nei jeans
culi e catene, assassini per bene
la radio si accende su un pezzo funky
teste fasciate, ferite curate
l'affitto del sole si paga in anticipo prego
arcobaleno, più per meno meno
rabbia stupore la parte l'attore
dottore che sintomi ha la felicità
evoluzione il cielo in prigione
questa non è un'esercitazione
forza e coraggio
la sete il miraggio
la luna nell'altra metà
lupi in agguato il peggio è passato

domingo, 12 de setembro de 2010

Gosto...

... que a vida me surpreeenda. Do regresso de (bons) sentimentos escondidos. De ter amigos por perto. De sorrir. Do pôr-do-sol sobre o Oceano. As mensagens da minha irmã à Segunda de manhã. Ir de bicicleta para o trabalho. Do sol. O cheiro e o som do mar. Saber que está tudo bem com quem gosto. Da descoberta do outro. De conhecer, o mundo e as pessoas. De cães e gatos, um bocadinho mais daqueles que são meus. O nascer-do-sol na minha varanda. De ouvir dizer que sou melhor pessoa do que antes. Do cheiro a terra molhada depois de um dia escaldante. De acordar com a Mikas aos meus pés.

Gosto de muito mais coisas, devo dizer... estas são só algumas de que me lembrei hoje. Amanhã lembrar-me-ei de outras. E no outro dia também. Apenas porque é bom celebrar a vida, todos os dias.

Uma visita inesperada...

... mas muito bem-vinda encheu-me a semana de pequenas alegrias. Os momentos partilhados com uma amiga de longa data (já lá vão 8 anos) são pérolas a conservar. A sua personalidade e perspectiva de vida são uma influência muito positiva na minha vida, desde que nos conhecemos. Obrigada D., por seres quem és.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

As Cinco Terras...


... são um conjunto de 5 aldeias alcandoradas nas falésias do mar Tirreno, na região da Liguria. Zona de mar e sol e de muitos turistas. Todos os meus colegas que já lá tinham passado tinham-me aconselhado vivamente uma visita, fora da época alta de Verão se possível. Mas a oportunidade surgiu ao acaso e, sem pensar muito, eu e 3 amigos apanhámos o comboio para Génova e para as 5 Terre para um fim-de-semana de descanso, caminhadas e passagem por sítios da Unesco.  

Génova vista de cima

Génova é uma cidade portuária, uma das 4 "Reppubliche Marinare" ao lado de Veneza, Amalfi e Pisa, cidades que na Idade Média gozavam de autonomia politica devido à prosperidade económica derivada das actividades marítimas. É também a cidade com o maior centro histórico da Europa e onde ruas inteiras são património da Humanidade pela Unesco. Com uma atmosfera urbana admiravelmente tranquila, a alma de Génova revela-se na relação com o mar, também visível num dos maiores Aquários europeus (senão o maior) e na área de Boccadasse que roça o mar. Esta mesma alma citadina aparece-nos nas ruas sombrias e labirinticas, muito estreitas e com prédios tão altos que impedem que os raios de sol atinjam o solo.

Alguns dos estranhos seres que habitam o Aquário

Boccadasse, uma das praias

A pouco mais de uma hora de comboio de Génova, chegamos ao Parque Natural das Cinque Terre. Ligadas por um caminho pedestre com vista sobre o mar, cada uma destas 5 aldeias se concentra nos locais mais inacessíveis das falésias, aqueles onde a construção é difícil e a agricultura quase impossível (mas mesmo assim existente, pelo menos as vinhas). Em frente às 5 Terre, o mar abre-se completamente num horizonte ilimitado de azul dourado. O caminho cheira a mato mediterrânico e a sal. A comida é de mar, marisco ou peixe com massa. E onde existe a famosa Via dell'Amore, 20 minutos de caminhada que serve de pretexto para um passeio romântico (pela vista sobre o mar), para todas as idades.

Via dell'Amore

No fim da caminhada de várias horas a subir e descer as falésias sob o sol escaldante de fim de Agosto, a recompensa esperava-nos no mar espicaçado (muito raro por estas bandas) e quentinho... hum, bem mais quentinho que o Atlântico. Numa praia pública (também coisa rara) atulhada de turistas e onde a areia se esconde entre os seixos que cobrem a maior parte do solo. Mesmo com praias assim, foi uma grande viagem de fim-de-semana.
O mar Tirreno...

Uma das praias nas Cinque Terre (sim, é mesmo cimento)

domingo, 15 de agosto de 2010

Regresso de férias

Este ano as minhas férias foram repartidas por 3 países. Primeiro Portugal, onde o descanso foi substituido pela visita a familiares e amigos e por uma passagem rápida por alguns lugares que gosto. O segundo foi Itália, onde tive o prazer de partilhar as paisagens, os banhos no lago, os filmes nocturnos e os gelados com a minha afilhada de 13 anos e a sua irmã mais velha, que se revelaram óptimas companheiras de percurso. O terceiro foi a Finlândia, onde me fui encontrar com amigos do tempo de Erasmus para celebrar os 10 anos que nos conhecemos. Férias repartidas no tempo e partilhadas com pessoas diferentes. Um tempo de (re)descoberta das pessoas que fazem parte da minha vida há muito tempo, esse tempo que deixa marcas boas vísíveis na personalidade mais segura e madura e na certeza de saber o que (não) se quer. Nestas férias, boas surpresas vieram parar-me às mãos e guardo-as com a maior satisfação. Estas fotos são apenas alguns dos momentos que me encheram de orgulho ou alegria por fazer parte da vida destas pessoas. Bem hajam por existirem.

Em Itália

Na Finlândia