Em Itália, os regionalismos têm um peso enorme. Para o Norte, os habitantes do Sul são simplórios, iletrados, sujos e chamam-se “Terrone”. Para o Sul, os do Norte são os “Polentone” e são sérios, ricos e muito pouco divertidos, praticamente suíços ou austríacos. Os preconceitos e estereótipos continuam a fazer parte do dia-a-dia. É verdade que no sul o clima é mais quente e agreste e os horários são, também por isso, diferentes. Enquanto que no Norte começar a trabalhar às 8h da manhã e ter uma pausa para almoço de máximo 1 hora é normal, no sul antes das 9h é impensável começar a trabalhar e a pausa para almoço é pelo menos de 2 horas. Também é verdade que o Sul é mais pobre e que há muitos migrantes no Norte, mais rico, com mais indústria e mais emprego, melhores infra-estruturas e mais financiamento público visível. Infelizmente estas diferenças e a grande vaga de migração para o Norte começam a trazer consequências perigosas, como o apoio cada vez maior ao partido de extrema direita “Lega Nord”, que pretende a separação entre o Norte e o Sul e o recambiamento de todos os (i)migrantes.
Foi com estes preconceitos em mente que o protagonista do filme “Benvenuti al Sud”, que vi ontem, partiu para uma vila na zona de Nápoles, vestido com um colete à prova de balas e munido da inspiração nortenha de eficiência e seriedade. Depois de algumas peripécias de partir o coco o rir, no final o protagonista descobre que pode ver o pôr-do-sol sobre o mar (em Milão isso não existe), o gosto pelas inúmeras pausas para café, o prazer da comida, a amizade e a boa-vontade de pessoas simples que o ajudam sem pedir contrapartidas. Uma verdadeira lição de vida que ficou no coração do protagonista e da sua família. E para mim uma oportunidade para confirmar que são estas pequenas diferenças que tornam cada sítio único e especial e que só conseguimos apreciar com uma mente aberta e limpa de preconceitos.
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