... é muito atribulado, mas é também rápido e eficiente. Em Bombaim, há comboios de 3 em 3 minutos e uma viagem em 2ª classe do norte para o sul da cidade custava, em 2006, 9 rupias, o equivalente a 20 cêntimos.
O problema são as pessoas… demasiadas pessoas. Há tantas pessoas a utilizar os comboios que estes não têm porta… para quê, se elas não se conseguiriam fechar? E assim, sem portas, sempre vem uma corrente de ar para ajudar as ventoinhas penduradas no tecto das carruagens a refrescar os passageiros.
Há carruagens só para mulheres e outras para homens, herança dos britânicos, para evitar os potenciais abusos que podem ocorrer quando as pessoas têm que andar ensalsichadas umas nas outras; as mulheres têm a opção de ir nas carruagens dos homens, o que geralmente acontece quando as mulheres estão acompanhadas por membros do sexo masculino. As carruagens dos homens estão sempre cheias… são mais de 7 milhões de pessoas a utilizar aquele transporte todos os dias- os indianos não têm fim-de-semana – e a diferença entre as horas de ponta e as restantes horas é a quantidade de homens que se agarram uns aos outros na entrada das carruagens quando os rebordos das portas já não são suficientes para todas as mãos… eles vão literalmente encavalitados uns nos outros e cabe sempre mais um passageiro, quando parece não caber nem sequer mais uma mosca.. Só numa sociedade com imensos problemas económicos e sociais como a indiana é que se percebe o elevado nível de solidariedade que eles possuem… quando não cabem dentro das carruagens, seguem viagem em cima do comboio, descontraidamente.
Se entrarmos na estação inicial do percurso, pode ser que tenhamos a sorte de encontrar um lugar num dos bancos de madeira corridos que existem em relativa abundância nas carruagens. Quando parece que o banco está lotado, surge uma pessoa mais que toca no ombro de quem está sentado na ponta do banco e este, automaticamente, chega-se um bocadinho para o lado e aperta os restantes passageiros sentados no banco… afinal cabia mais um, ou mais dois, ou…
Ir em pé pode ser melhor ou pior consoante o lugar em que ficamos; quando conseguimos ficar em pé entre os bancos sofremos um pouco menos, enquanto que no corredor é sufocante e os empurrões sucedem-se. Eu aproveitava para admirar os cartazes coloridos que revestiam as paredes já sem tinta, para me abstrair dos solavancos constantes a que estava sujeita.
A saída do comboio é o pior de tudo. 3 paragens antes da nossa começa a preparação: levantamo-nos do banco ou saímos do local onde viajámos em pé e começamos a abrir caminho em direcção à porta… nem a abertura de caminho à catanada na floresta tropical é tão difícil! Os ombros são uma peça fundamental para afastar as outras pessoas do caminho e quando chegamos à nossa paragem está uma multidão de indianos impacientes por entrar no comboio, daqueles que não esperam que os outros saiam. “Como é que raio eu vou sair daqui?”, pensava eu… aos empurrões, está claro, sem mais demoras ou corria o risco de ficar dentro do comboio… bem, uma das vezes tive que ser puxada pelo meu colega ou teria mesmo seguido caminho…
Apesar de todas as peripécias, ou melhor, graças a elas, andar de comboio em Bombaim é uma aventura a não perder… e porque não aproveitar para comprar um snack enquanto nos tentamos segurar apenas com uma mão? Este é o verdadeiro espírito indiano que só se consegue experimentar se andarmos nos comboios em 2ª classe.