quarta-feira, 2 de junho de 2010

Experiências urbanas: Viena e Londres

O meu gosto pelas viagens urbanas nasceu tarde. A cidade representava a confusão, o stress, a poluição, o trânsito e principalmente o afastamento em relação à natureza. A possibilidade de se sentir só numa cidade, onde vivem mais pessoas, intimidava-me. Com o passar dos anos e com a vivência de várias cidades, aprendi a olhar também para os aspectos positivos: a actividade constante, o acesso à cultura, a novidade ao virar da esquina, as cores, os cheiros e o frenesim. A cidade vibra de vida, com tudo o que isso implica de bom e de mau. Descobri que gosto de cidades, porque são o reflexo mais evidente da capacidade engenhosa do ser humano, tornando possível a coexistência num espaço limitado de coisas tão diversas como igrejas antigas e arranha-céus de vidro, pequenas hortas urbanas e auto-estradas, lojinhas sombrias e acanhadas e gigantescos centros comerciais. E pessoas, das mais diversas origens e com a mais diversa bagagem cultural. A cidade é, ao fim e ao cabo, uma encruzilhada fascinante de tudo aquilo que o ser humano representa, necessita ou deseja.

As minhas últimas viagens por este mundo fora passaram por duas grandes cidades europeias: Viena e Londres.
Viena

Viena possui uma aura de nobreza inigualável. Não é só pelo Palácio da Sissi (quem não se lembra da Romy Schneider a passear pelas salas e corredores do palácio enquanto morria de amores por Francisco José?), mas também as ruas largas debruadas de árvores em flor, os parques relvados, as carruagens puxadas por cavalos (pobrezitos), os telhados verdes da cor do cobre quando encontra a água. Viena é também esplanadas, fontes e relógios de imperadores. Senhoras idosas a comer gelados. Schnitzel (um simples panado com um nome difícil) e piano com mel (entrecosto grelhado pincelado com mel). A maior feira de diversões que eu já vi. Ópera disponível na praça para quem estiver disposto a sentar-se à chuva em frente ao ecrã. Estátuas de mulher-leão, com asas. Chocolate “Ildefonso” e “Mozart”. Chuva constante, daquela miudinha molha-todos. Segurança e passeios nocturnos pela Baixa de luz dourada. O rio Danúbio, mais pequeno do que imaginava. O nome de uma rua dedicada a Aristides de Sousa Mendes (será que a maioria dos portugueses sabe quem ele foi?). Chocolate quente com chantilly num café típico onde se espera na fila para se poder sentar. Jantar entre amigos.

Londres

Londres, por sua vez, tem aquele ar cosmopolita e desinteressado, como quem sabe que é dona do mundo e parece não querer saber. Mas quer. Cada esquina daquela cidade é passada a pente fino para garantir que o conforto e a segurança são respeitados. As casas dos bairros das classes média e baixa são todas iguais, sem varandas (para que queres varanda se chove quase sempre?), revestidas de tijolo castanho e com rendilhado branco nas janelas. Minúsculas e caríssimas. Mas bonitas, pelo menos por fora.
Londres move-se a uma velocidade impressionante. Nos diversos mercados que proliferam pela cidade e nas principais ruas comerciais, como a Regent e a Oxford, sente-se a vibração da metrópole e a vivacidade dos seus habitantes. Ou talvez tenha sido do tempo de Verão que tive a sorte de apanhar, segundo dizem o Verão inglês dura apenas uma semana e pode ocorrer entre Maio e Agosto (este ano parece que foi em Maio). O mercado de Camden, a norte da cidade, é uma versão alternativa ao estilo conservador inglês, onde se reúnem espaços de restauração de todo o mundo, desde a Tailândia ao Brasil, e onde se pode encontrar vestuário gótico, hippy ou dread, onde se podem fazer tatuagens de todas as cores e feitios, onde jovens de cabelo rosa ou verde se passeiam descansadamente pela rua e onde os bancos das esplanadas podem ser metade de uma vespa (falo das motas, claro).

O mais engraçado em Londres é poder passar do estilo alternativo ao estilo glamour em poucas estações de metro. As ruas Regent e Oxford oferecem Prada e Levi’s. E uma loja de brinquedos de 5 andares onde os empregados se divertem a fazer bolhinhas de sabão, a lançar helicópteros e a brincar aos piratas. Que belo emprego! E que rebuliço naquelas ruas, até parecia que quando há sol em Londres é possível faltar ao emprego e ir às compras.
Ou então deitar-se de biquíni na relva de um dos parques urbanos, como o Green Park junto ao Palácio de Buckingham, desta vez com elefantes artisticamente coloridos que despertam a curiosidade dos passantes. Foi neste jardim que experimentei a Urban Picnic Box, uma ideia eventualmente nascida da “Bento box” do Japão e que é, simplesmente, uma refeição numa caixa para apreciar em qualquer espaço público da cidade.
Foi também em Londres que aprendi a origem da forma tradicional dos bolos de noiva. A Igreja de St Bridget (também chamada St Brides), na margem norte do Rio Tamisa, tem esse formato e diz-se que um famoso pasteleiro do séc. XVIII fez o bolo de noiva para o casamento da sua filha inspirado na torre da Igreja com essa forma, uma ideia depois aproveitada por outros mestres da doçaria e que perdura até hoje. Londres é assim, uma influência subtil mas vigorosa na vida europeia. Como por exemplo as peças de Shapeskeare que enchem teatros por esse mundo fora.

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