Há uns dias atrás tive a possibilidade de visitar um reactor nuclear. O centro de investigação onde trabalho começou por ser dedicado à pesquisa nuclear, não para produção de energia mas para estudar o efeito da radioactividade em diferentes materiais. Naquela altura (anos 60), o JRC chamava-se Euratom, como ainda hoje é conhecido por alguns habitantes. Apesar da pesquisa nuclear ter sido relegada para segundo plano e os domínios da investigação se terem diversificado, nas premissas do centro existem ainda 2 reactores nucleares. Num deles trabalhava um amigo meu que entretanto regressará à Áustria. Nesta sua última semana de trabalho, ele decidiu partilhar com os seus amigos mais próximos o trabalho que desenvolvia e marcou uma visita ao laboratório e ao reactor só para nós.
Começámos por passar todas as exigências de segurança, com raios-X para as carteiras e casacos e portas de abertura retardada para as pessoas. No laboratório, entrámos literalmente na máquina que estuda uma forma para descobrir urânio ou plutónio através do chumbo, uma aplicação necessária para evitar o contrabando de material radioactivo que pode passar pelos raios-X nos aeroportos. Para entrar no reactor, passamos primeiro pela sala de comandos, onde só faltava o Homer para parecer uma cena dos Simpsons. Entramos depois por uma pequena passagem onde durante 30 segundos nos habituamos às diferenças de pressão atmosférica, um dos mecanismos de segurança do reactor. A lógica é simples: o ar circula das altas para as baixas pressões e deixando a pressão atmosférica mais baixa dentro do reactor evita fugas para o exterior, no caso de existirem. Lá dentro, vemos um guindaste preso nos bordos superiores do reactor e que gira os 360º do espaço. No chão, ao meio, espreitamos os contentores cilíndricos onde o material radioactivo era colocado para a pesquisa, tubos de metal de diferentes tamanhos. O reactor é, na sua maior parte, subterrâneo, num total de 45 metros de altura. Os resíduos ainda existentes lá são, na sua maioria, objectos quotidianos (clips, papel, etc.) que precisam de passar por um processo de descontaminação antes de serem despejados. Também nós que entrámos passámos por um sistema electrónico que verifica se estamos contaminados – felizmente nenhum de nós estava, como era esperado (os níveis de radioactividade foram medidos ao longo de toda a visita).
Devo confessar que este assunto do nuclear me causa alguns arrepios, vêm-me sempre à memória as imagens de Chernobyl. A visita a um reactor abre outras perspectivas e eu sei que agora os reactores são construídos com normas de segurança mais rígidas e que a energia nuclear tem muito potencial, mas ninguém me convence que os resíduos vão ficar selados e seguros para sempre e que o urânio não poderá ser usado para armas. Um assunto que vai continuar a ser debatido por este mundo fora.
Há uns anos atrás li um livro extremamente interessante que falava abertamente deste e doutros assuntos, nas palavras de Jacques Cousteau: “O Homem, a Orquídea e o Polvo”, uma leitura que vale a pena.
Para mim, o único problema nesta altura para o aproveitamento a sério da energia nuclear é mesmo o que fazer com os resíduos que resultam da central. Quando iventarem maneira de os reutilizar, então apoiarei a 100% esta energia maravilhosa.
ResponderEliminarSim, os residuos sao de facto o maior problema... uma das soluções seria pagar a alguns napolitanos para os fazerem desaparecer no Mar Mediterrâneo, como aconteceu antes...
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