A polémica em redor dos professores
parece não ter fim. Às vezes o ritmo das críticas e das mudanças abranda, para
depois voltar a acelerar em busca de um ensino de excelência que nunca é
alcançado. E depois vêm mais mudanças, críticas, comentários, apreciações
negativas. E a polémica cresce, mais uma vez.
No fundo, julgo que todos
concordam com a necessidade de alterações estruturais e exigentes que aumentem
a eficácia do ensino, dotando as crianças e jovens de capacidades e conhecimentos
que lhes permitam encarar um futuro profissional e pessoal de sucesso. Esta é a
missão de um sistema educativo, uma missão nobre e crucial para o
desenvolvimento de qualquer país, a todos os níveis. A educação é a solução
para muitos problemas.
O caminho para cumprir esta
missão toma, no entanto, direcções diversas. Há quem defenda cortes e
racionalização de recursos num grupo profissional supostamente com abundância
de regalias e excesso de mão-de-obra. Das opiniões que ouço e leio, são muitos
os que defendem esta opção. Suponho que a grande maioria destes não tenha no
seu círculo social mais próximo um professor, porque os que têm pensam normalmente
diferente. E pensam assim porque sabem da instabilidade profissional, das (cada
vez maiores) exigências da profissão, incluindo ao nível psicológico e
emocional, e do verdadeiro valor que é dado ao seu trabalho através de salários
que, ao contrário do que se pensa, não são chorudos.
Mas vamos a factos. Começando pelo dinheiro, uma medida que toda a gente percebe, um professor contratado com horário completo tem um salário bruto entre 809.33 (índice 89) e 1373.13 Euros (índice 151), dependendo se tem uma licenciatura e se é profissionalizado (com estágio). Ser professor contratado significa que este profissional tem emprego apenas por um ano - ou menos - e que, todos os anos, tem que concorrer sem saber à partida se terá trabalho nos concelhos que preferiria, mais perto da sua residência (a principal motivação). Ou sequer se terá trabalho. Durante anos, pelo menos 10 anos nos dias de hoje (depende também das disciplinas que lecciona), um professor contratado não sabe o que é ter a certeza de um trabalho numa terra escolhida por si e a possibilidade de planear uns anos à frente. Para além disso, mesmo que fique colocado, pode não ser logo no início do ano lectivo ou pode ter horário incompleto, com as devidas repercussões no seu salário mensal. O horário de componente lectiva de um professor é de 22 horas, o que significa que o professor tem que estar na escola estas horas a cumprir as suas funções, enquanto que as restantes tarefas – que completam as horas semanais exigidas, ele pode fazer onde quiser. E são muitas estas tarefas, desde preparar as aulas, fazer e corrigir testes, organizar viagens de estudo, ter reuniões com os outros professores, participar em acções de formação exigidas para prosseguimento na carreira. Imaginem quantas horas passa um professor a corrigir testes de 6 turmas de 25 alunos = 150 testes (que não são de escolha múltipla).
Mas vamos a factos. Começando pelo dinheiro, uma medida que toda a gente percebe, um professor contratado com horário completo tem um salário bruto entre 809.33 (índice 89) e 1373.13 Euros (índice 151), dependendo se tem uma licenciatura e se é profissionalizado (com estágio). Ser professor contratado significa que este profissional tem emprego apenas por um ano - ou menos - e que, todos os anos, tem que concorrer sem saber à partida se terá trabalho nos concelhos que preferiria, mais perto da sua residência (a principal motivação). Ou sequer se terá trabalho. Durante anos, pelo menos 10 anos nos dias de hoje (depende também das disciplinas que lecciona), um professor contratado não sabe o que é ter a certeza de um trabalho numa terra escolhida por si e a possibilidade de planear uns anos à frente. Para além disso, mesmo que fique colocado, pode não ser logo no início do ano lectivo ou pode ter horário incompleto, com as devidas repercussões no seu salário mensal. O horário de componente lectiva de um professor é de 22 horas, o que significa que o professor tem que estar na escola estas horas a cumprir as suas funções, enquanto que as restantes tarefas – que completam as horas semanais exigidas, ele pode fazer onde quiser. E são muitas estas tarefas, desde preparar as aulas, fazer e corrigir testes, organizar viagens de estudo, ter reuniões com os outros professores, participar em acções de formação exigidas para prosseguimento na carreira. Imaginem quantas horas passa um professor a corrigir testes de 6 turmas de 25 alunos = 150 testes (que não são de escolha múltipla).
Para os professores não contratados,
ou seja, que já tenham algum tipo de vínculo à função, podem ganhar salários brutos entre 1500 e 3076.29 Euros, entre o índice 167 (escalão 1) e o índice 370
(escalão 10). A subida de escalão, quando não está congelada, exige vários anos
de serviço e boas avaliações, e nalguns casos a disponibilidade de vagas. Por exemplo,
para um professor passar do 1º ao 4º escalão, de um salário bruto de 1500
para 1916.02 Euros, tem que
trabalhar 16 anos. Sem contar com os
anos que esteve a contrato, porque ao contrário de qualquer outra profissão de
carácter dependente, não há limite máximo para o número de anos a contrato nem
obrigatoriedade de efectivar depois de 3 contratos.
Olhando para os números e tendo em conta a média de salários em Portugal, nem parece assim tão mal. E não seria, não fossem todas as outras tropelias às condições de trabalho. Falo, por exemplo, do facto do professor ser obrigado a aceitar o horário nos dois dias a seguir à publicação da sua colocação, mesmo que tenha que atravessar meio Oceano Atlântico. Falo do facto de, caso não aceite, não poder concorrer nos dois anos seguintes, independentemente de ser um horário mínimo (pode ser até 6 horas) e extremamente longe da sua residência. E por esta razão temos professores com horários de 10 horas semanais a deslocarem-se centenas de quilómetros da sua casa e, literalmente, a pagar para trabalhar. Sem receber subsídio de deslocação ou ajudas de custo para a (segunda) casa que terão que arrendar, como acontece noutras actividades da função pública onde a mobilidade é recompensada. Falo do desgaste psicológico próprio de uma profissão ligada à educação e à frustração de ter que deixar os seus próprios filhos com alguém enquanto se desloca para ensinar os filhos dos outros, sob pena de perder tempo de serviço que poderá não servir para nada quando decidirem mudar as regras do jogo já quando os jogadores estão em campo.
Olhando para os números e tendo em conta a média de salários em Portugal, nem parece assim tão mal. E não seria, não fossem todas as outras tropelias às condições de trabalho. Falo, por exemplo, do facto do professor ser obrigado a aceitar o horário nos dois dias a seguir à publicação da sua colocação, mesmo que tenha que atravessar meio Oceano Atlântico. Falo do facto de, caso não aceite, não poder concorrer nos dois anos seguintes, independentemente de ser um horário mínimo (pode ser até 6 horas) e extremamente longe da sua residência. E por esta razão temos professores com horários de 10 horas semanais a deslocarem-se centenas de quilómetros da sua casa e, literalmente, a pagar para trabalhar. Sem receber subsídio de deslocação ou ajudas de custo para a (segunda) casa que terão que arrendar, como acontece noutras actividades da função pública onde a mobilidade é recompensada. Falo do desgaste psicológico próprio de uma profissão ligada à educação e à frustração de ter que deixar os seus próprios filhos com alguém enquanto se desloca para ensinar os filhos dos outros, sob pena de perder tempo de serviço que poderá não servir para nada quando decidirem mudar as regras do jogo já quando os jogadores estão em campo.
Tudo aquilo que aqui escrevi é realidade para muitos professores, para os educadores das nossas crianças e jovens. É óbvio que também nesta profissão, como em todas as outras, há bons e maus profissionais, há professores responsáveis e outros oportunistas. Todos nós tivemos o nosso professor besta e o professor bestial, os nossos filhos também terão as suas boas e más experiências. É certo que alguns conseguiram subir na carreira à custa de falhas do sistema ou tirando vantagem das características da profissão, e foram gozando a autonomia de horário para se acomodarem a um trabalho seguro ao qual dão pouco. Há professores a ganhar muito que fazem pouco, como há políticos, arquitectos, médicos, bancários, contabilistas, cabeleiros, electricistas, secretários. Mas não arranjemos justificação no mau exemplo de alguns para culpar todo um grupo profissional, apesar da tendência maledicente que nos vem nos genes. Apesar do descrédito associado à actual classe política, eu acredito que alguns são extremamente competentes e que dão muito ao país. Em relação aos professores, eu sei que há muitos que valem o seu peso em ouro e que, apesar de todas as contrariedades, continuam a cumprir escrupulosamente a sua missão.
É por eles, pelos professores que
se esforçam e que querem trabalhar com dignidade, que escrevo este texto. Porque
me sobe à garganta uma onda de revolta quando ouço alguém comentar que os
professores são uma cambada de preguiçosos que merecem tudo aquilo que lhes
estão agora a fazer. Quem diz isto não sabe o que é ser professor, hoje.
Fonte dos dados salariais: http://www.spgl.pt/cache/bin/XPQ3jTwXX11903eV28FetSMaZKU.pdf
Fonte dos dados salariais: http://www.spgl.pt/cache/bin/XPQ3jTwXX11903eV28FetSMaZKU.pdf
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