Recebi o feitiço de braços abertos.
Desfolhei a última página do livro de Miguel Real e, tal como as personagens do
livro, representantes de uma linhagem histórica de portugueses na Índia, também
eu me enfeiticei, pelo livro e pela Índia. Do livro, foi de certeza pela
escrita ágil e ritmada de Miguel, pela quebra das regras gramaticais que representa
tão bem a vida vivida num fôlego, como acontece naquele país, pelo retrato dos
fragmentos da Idade dos Descobrimentos e do tempo de Salazar, das perseguições da Inquisição em ambos os cantos do mundo, pelo vislumbre inteligente dos paradoxos da cultura indiana e das contradições
mesquinhas da portuguesa, por incitar o meu desejo de não parar de ler e por
estimular a vontade de regressar a esse país que seduz. Da Índia, pelas cores
dos saris esvoaçantes, o brilho das peles curtidas pelo sol, os cheiros da
miséria misturados com as especiarias, os sabores quentes da comida variada, o sorriso fácil em cabeças meneantes, as peles macias amendoadas, pela atitude
submissiva de quem sabe desde sempre que o destino está traçado.
E o meu destino
foi, desde sempre, conhecer a Índia. Pelos livros, pelas viagens e pelas pessoas.
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