quarta-feira, 14 de março de 2012
Champalimaud
Toda a gente já ouviu falar do milionário que deixou parte da sua fortuna para a criação de uma fundação de investigação em ciências biomédicas e para a pesquisa do cancro. Hoje visitei o novo espaço da Fundação Champalimaud em Belém, com vista sobre o mar, inaugurado há menos de 1 ano. Aproveitei o convite de uma colega dos tempos de Ispra que trabalha lá agora e espreitei os laboratórios open-space onde investigadores de todo o mundo estudam células animais, o cérebro e o comportamento humano. O edifício cheira a novo e impressiona pelo espaço disponível, pela vista soberba, pelas condições materiais com toques de requinte. Para um futuro próximo está planeado o hospital de cuidados paliativos mesmo ao lado. E o Darwin Café é uma atracção aberta ao público em geral, onde a ciência encontra repouso. Recomendo.
quinta-feira, 8 de março de 2012
Lisboa...
É bom voltar às coisas boas de Lisboa. Eu sei que também há coisas más mas hoje foquei-me nas coisas boas, o dia foi propício ao optimismo. Gosto das ruas cheias de gente, da diversidade de pessoas, do frenesim da cidade. Dos artistas de rua e dos vendedores ambulantes no Rossio. De entrar em 4 livrarias diferentes e encontrar em todas elas um livro novo. Da possibilidade de deixar o carro em casa e conseguir chegar ao sitio que quero de metro ou autocarro. Da Rua Augusta e do Chiado. Gosto da maravilhosa luz de Lisboa e de como os raios de sol espelham o rio Tejo.
Hoje também gostei da conversa casual com uma senhora que estava sentada à minha frente no autocarro. De improviso, esta senhora de 80 anos, com netos da minha idade, pergunta-me qualquer coisa. Uma senhora linda com rugas da idade a imprimirem serenidade. Conta-me da neta e dos dois bisnetos, da asbestose do marido que o fez reformar há 20 anos e da teimosia dele que quase a leva à loucura. "Não sei porque gosta tanto de me contrariar, não dá valor ao que eu faço por ele", diz ela. Nota-se uma certa mágoa na sua voz e no desviar do seu olhar. Respondo que não, pelo contrário, não creio que seja verdade, ele aprecia tanto o que ela faz mas não o consegue expressar, fruto da educação do seu tempo. "Nunca deixou que eu tirasse a carta, era machista...", e agora a senhora anda de autocarro ou de táxi porque o marido já não pode conduzir. "Eu também sou muito nervosa, acho que não conseguia guiar" e justifica-se com a história do pai que batia na mãe com ela a assistir, com apenas 3 anos de idade. "Fala-se hoje em violência doméstica mas não tem nada a ver com aquilo que a minha mãe passou, lembro-me de tudo".
20 minutos no autocarro e descubro uma vida. Cheia de histórias, de momentos de coragem e de aflição, de alegrias e experiências marcantes que se tornaram lições de vida. É bom estar em Lisboa.
Hoje também gostei da conversa casual com uma senhora que estava sentada à minha frente no autocarro. De improviso, esta senhora de 80 anos, com netos da minha idade, pergunta-me qualquer coisa. Uma senhora linda com rugas da idade a imprimirem serenidade. Conta-me da neta e dos dois bisnetos, da asbestose do marido que o fez reformar há 20 anos e da teimosia dele que quase a leva à loucura. "Não sei porque gosta tanto de me contrariar, não dá valor ao que eu faço por ele", diz ela. Nota-se uma certa mágoa na sua voz e no desviar do seu olhar. Respondo que não, pelo contrário, não creio que seja verdade, ele aprecia tanto o que ela faz mas não o consegue expressar, fruto da educação do seu tempo. "Nunca deixou que eu tirasse a carta, era machista...", e agora a senhora anda de autocarro ou de táxi porque o marido já não pode conduzir. "Eu também sou muito nervosa, acho que não conseguia guiar" e justifica-se com a história do pai que batia na mãe com ela a assistir, com apenas 3 anos de idade. "Fala-se hoje em violência doméstica mas não tem nada a ver com aquilo que a minha mãe passou, lembro-me de tudo".
20 minutos no autocarro e descubro uma vida. Cheia de histórias, de momentos de coragem e de aflição, de alegrias e experiências marcantes que se tornaram lições de vida. É bom estar em Lisboa.
terça-feira, 6 de março de 2012
O regresso
Estou em Portugal há pouco mais de duas semanas. Em meados de Fevereiro, peguei em 3 anos de vida, arrumei-os em caixotes e mudei de casa e de país. A viagem de regresso foi tranquila, com passagens breves e animadas por Nice, Toulouse e Burgos, até então locais desconhecidos. Em boa companhia. Vir de carro foi bom, o tempo que demorámos a percorrer 2200 km ajudou-me a desligar-me da vida anterior e a meter na cabeça que há novos desafios a exigir a minha atenção. Talvez por isso estas duas semanas me tenham parecido dois meses e sinto a vida em Itália já tão distante. É certo que o regresso a casa dos pais, as conversas em família à lareira, as brincadeiras com a Mikas (que também fez parte da vida em Itália) ajudaram a esta rápida integração num tipo de vida a que já não estava acostumada. Mas também as filas de espera nos serviços públicos e a burocracia obrigatória que tive que tratar me preencheram o tempo. Demasiado. Tanto que quando hoje me pediram mais um documento eu reagi com uma cara de desesperada... não gosto da burocracia, de ter que voltar aos mesmos sítios, esperar pacientemente e depois explicar mais três vezes a minha situação enquanto reparo na cara de desinteresse dos funcionários. Emigrar não é fácil, mas regressar a Portugal também não. Os documentos emitidos pela Comissão Europeia que dizem exactamente o que é necessário não servem para nada. É preciso dar trabalho às entidades portuguesas. Às vezes nem sinto que fazemos parte de uma organização maior.
Apesar disto, este regresso está a ser menos doloroso do que os outros (já lá vão 3). Custam-me as saudades dos meus amigos de Ispra, da família que lá criei. Mas não me custa tanto deixar o sítio nem o trabalho, que tem continuidade. Parece que há medida que envelheço absorvo melhor os efeitos destas mudanças de vida. Fico pronta mais rápido para os projectos novos que hei-de criar. Será que é um bocadinho da sabedoria de vida que se está a formar em mim?
Apesar disto, este regresso está a ser menos doloroso do que os outros (já lá vão 3). Custam-me as saudades dos meus amigos de Ispra, da família que lá criei. Mas não me custa tanto deixar o sítio nem o trabalho, que tem continuidade. Parece que há medida que envelheço absorvo melhor os efeitos destas mudanças de vida. Fico pronta mais rápido para os projectos novos que hei-de criar. Será que é um bocadinho da sabedoria de vida que se está a formar em mim?
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