Estou em Portugal há pouco mais de duas semanas. Em meados de Fevereiro, peguei em 3 anos de vida, arrumei-os em caixotes e mudei de casa e de país. A viagem de regresso foi tranquila, com passagens breves e animadas por Nice, Toulouse e Burgos, até então locais desconhecidos. Em boa companhia. Vir de carro foi bom, o tempo que demorámos a percorrer 2200 km ajudou-me a desligar-me da vida anterior e a meter na cabeça que há novos desafios a exigir a minha atenção. Talvez por isso estas duas semanas me tenham parecido dois meses e sinto a vida em Itália já tão distante. É certo que o regresso a casa dos pais, as conversas em família à lareira, as brincadeiras com a Mikas (que também fez parte da vida em Itália) ajudaram a esta rápida integração num tipo de vida a que já não estava acostumada. Mas também as filas de espera nos serviços públicos e a burocracia obrigatória que tive que tratar me preencheram o tempo. Demasiado. Tanto que quando hoje me pediram mais um documento eu reagi com uma cara de desesperada... não gosto da burocracia, de ter que voltar aos mesmos sítios, esperar pacientemente e depois explicar mais três vezes a minha situação enquanto reparo na cara de desinteresse dos funcionários. Emigrar não é fácil, mas regressar a Portugal também não. Os documentos emitidos pela Comissão Europeia que dizem exactamente o que é necessário não servem para nada. É preciso dar trabalho às entidades portuguesas. Às vezes nem sinto que fazemos parte de uma organização maior.
Apesar disto, este regresso está a ser menos doloroso do que os outros (já lá vão 3). Custam-me as saudades dos meus amigos de Ispra, da família que lá criei. Mas não me custa tanto deixar o sítio nem o trabalho, que tem continuidade. Parece que há medida que envelheço absorvo melhor os efeitos destas mudanças de vida. Fico pronta mais rápido para os projectos novos que hei-de criar. Será que é um bocadinho da sabedoria de vida que se está a formar em mim?
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