Nascida há 28 anos atrás, K. é
uma indiana que vive em Bombaim. Trabalhadora autónoma e eficaz, ergue-se no
mundo do marketing de forma convincente, o que lhe permite a independência
financeira. Criada no seio de uma família católica oriunda do sul da Índia, K.
divide-se entre as obrigações laborais e as tarefas voluntárias na Igreja perto
de casa, onde toca órgão e ensaia crianças. Aos 28 anos, K. é uma mulher jovem,
madura, autónoma e… solteira. Após uma relação especialmente difícil com um
homem hindu, K. chega um dia a casa e diz: “Mãe, arranja-me um marido, porque
eu sozinha não consigo”.
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Recordei-me desta história de K. ao
deparar-me com uma notícia recente no site da BBC (http://www.bbc.com/news/magazine-26341350). Num relato honesto e pessoal, uma indiana de 28
anos fala da pressão social que sente por ser solteira e das perguntas
imediatas e inconvenientes que aparecem quando não lhe vêem uma aliança no dedo
(“Não conseguiste arranjar ninguém até agora?”), ou das dificuldades acrescidas
com o arrendamento de uma casa sem uma figura masculina ao lado. É o estigma
social do solteiro, que se dispersa pelo mundo inteiro (embora a níveis
diferentes). Perante as dúvidas e as dificuldades destas mulheres, interrogo-me
se uma pessoa solteira tem menos valor por isso ou se o contributo que dá ao
mundo é menor por estar sozinha. Pergunto-me se o amor tem data de validade. E penso
naquelas relações que, seguindo as regras implícitas da sociedade, acabam por destruir
o respeito e a dignidade das pessoas que delas fazem parte.
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Ninguém gosta de ficar sozinho. Somos
seres sociais, colectivos, esculpidos para ter companhia. Para alguns, os
encontros com o outro são mais fáceis e fluem naturalmente; para outros, as colisões
são constantes. Quem, nalgum ponto da sua vida, já teve que apanhar os pedaços
partidos do seu coração, sabe do que falo. Todas são experiências válidas,
importantes para moldar o nosso percurso de vida, mesmo que nos deixem a alma
em ruínas. Na verdade, os solteiros, como os casados, têm trabalho, casa para manter,
contas para pagar, família para cuidar. Com uma grande diferença: têm que fazer
tudo isto sozinhos. E por isso pergunto-me se, em vez de questionarem a rapariga
indiana sobre a sua capacidade de arranjar um marido, não seria mais justo
oferecer-lhe ajuda e elogiá-la pela sua coragem de enfrentar as peripécias do dia sozinha.
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A última vez que vi a K. ela já
estava casada. O seu pedido foi atendido pelos pais, que lhe arranjaram um
homem compatível, segundo as estrelas, e de boas famílias. Conheceram-se, 6
meses depois estavam noivos, e 6 meses depois casaram. Bastou um ano para a vida
de K. dar a volta que ela – e a sua comunidade - desejavam. Durante esse tempo,
a sua irmã mais nova preparava o seu casamento com o namorado de longa data, o
qual foi obrigada a adiar para não casar antes da irmã mais velha. Os padrões
sociais não o permitem. Uns dias depois
do casamento da irmã mais nova, a mãe delas confessa-me aliviada: “Já posso
morrer descansada. Casei as minhas duas filhas”, como se tivesse finalmente
completado a sua missão de vida. E no final acrescenta: “Agora vou rezar por ti”.
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