segunda-feira, 3 de março de 2014

Voluntariar-me

Mohammad Yunus (re)inspirou-me, com o seu lema de ser útil para alguém a cada dia. O acaso deu um empurrão, quando meti conversa com alguém que trabalhava na associação. Decidida a dar um pouco do meu tempo em prol de outros que mais precisem enquanto estiver nesta cidade, dirigi-me à associação para me inscrever como voluntária. 

Devo confessar que o meu entusiasmo se desvaneceu rapidamente. Fui recebida com um rude “Boa tarde, diga”, sem mais apresentações. A tentar iniciar conversa, pedi para me falarem um pouco sobre a associação e saí de lá a saber o mesmo. Fizeram questão de me dar os títulos das pessoas que devo contatar directamente (Dr.ª Xx, Prof.ª Yy), quando na verdade nem sequer me perguntaram o meu nome, o nome daquela pessoa que estava disposta a trocar o conforto do sofá pela ajuda ao próximo e às actividades da associação.

Foi uma desilusão. Agradeci e saí porta fora, pensando se valeria a pena trabalhar com quem nem sequer quer saber o nome da pessoa que se disponibiliza a dar o seu tempo para os ajudar.

Sou voluntária há muitos anos. Fui chefe escuteira, monitora de colónia de férias, professora de português para estrangeiros, formadora no Centro Português para Refugiados. Trabalhei com crianças, jovens e adultos, e também com animais. Sei perfeitamente que muitas iniciativas por este país fora não se poderiam realizar sem a ajuda desinteressada de voluntários. E também tenho consciência do valor de cada hora dada, tirada de tempos livres, de tempo com família e amigos, até do próprio trabalho. Há ajuda mais genuína do que esta? Por isso não entendo esta abordagem impessoal e áspera, como se eu fosse apenas mais uma folha de inscrição a colocar no dossiê, e não uma pessoa real com imensa vontade de contribuir, apesar do seu trabalho, da sua família e das suas responsabilidades.

Está visto; enquanto estiver nesta cidade, encabeçada por títulos e repleta de hierarquias, onde o valor de uma pessoa parece medir-se pelo tamanho do canudo, vou contribuir para o mundo de outra maneira qualquer. 

2 comentários:

  1. Quem já atravessou meio mundo não vai desistir por tão pouco, pois não?

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  2. Olá Catarina,
    Neste caso, e para esta associação, sim. O respeito pela pessoa que és não é assim tão pouco :)

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