Se queremos testar a nossa paciência, vamos a África.
Os
modos educados dos africanos vêm acompanhados de uma desesperante lentidão de
serviço e de uma irritante calma no discurso. São 11h00, estou no aeroporto de
Kumasi desde as 7h30 da manhã e o voo marcado para as 9h10 está atrasadíssimo.
Eram 10h15 quando anunciaram um atraso de mais 2 horas, devido a um nevoeiro
cerrado e pouca visibilidade; a mim parece-me um daqueles dias de praia no
verão, que amanhece com os pingos do nevoeiro a cair e que depois se torna um
daqueles dias solarengos de 35º. Para quem já voou com neve e tempestade, um
nevoeiro não parece coisa muito ruim.
Quando me dirijo ao balcão de informações
quase a perder a paciência, o senhor de camisa branca, com ar preocupado e
telemóvel na mão, diz-me calmamente: “2 hours are just around the corner, don’t
go anywhere”. E acrescenta
“you know, life is the most important thing, it is too dangerous to land”. Contra
factos assim não há argumentos.
Regresso à sala de espera do aeroporto, pronta para
um pequeno-almoço tardio e, claro está, demorado, onde partilho a mesa com
estranhos que comem arroz e peixe frito às 11h da manhã. Vejo pela primeira vez
uma mulher de batina, daquelas que os padres usavam antigamente, longas e
pretas, com parte do colarinho branco bem apertado ao pescoço à vista.
Entretanto chega Priscilla, uma jovem de origem ganesa nascida na Alemanha, de
traços suaves e pele luminosa, cabelo longo entrançado e vestido cor-de-rosa
escuro, que se senta educadamente na minha mesa. Metemos conversa. Diz-me que veio
visitar os avós e um tio, depois de 10 anos de ausência. Os voos são muito
caros para vir com frequência. Lá em Hamburgo onde mora, tem uma amiga
portuguesa, de Alverca. Falo-lhe da minha experiência no Gana, que é terceira
vez que cá venho e que gosto muito do país e da amabilidade das pessoas.
Conto-lhe a história dos 5 filhos do agricultor que me parecia nunca terem
visto antes uma “senhora branca” e repetiam continuamente “Obroni, obroni”,
enquanto me fixavam de sorriso tímido e olhos curiosos. Priscilla conta-me que
teve a mesma experiência, ao contrário: quando esteve na Polónia, a família com
quem ela ficou nunca tinha visto uma pessoa preta e queriam tocar-lhe nos
braços, como se precisassem de confirmar que ela era real.
São 12h30. Através de um microfone rouco anunciam finalmente
a chegada do avião que, espero, me levará em segurança para Acra. Foi uma manhã
longa e tive que usar várias doses da minha paciência que naturalmente, talvez
pelo signo irrequieto que me rege ou pela genética, não é muita. Mas vou
aprendendo a largá-la aos bocadinhos e a manter a dose necessária de reserva
para situações onde já sei que a pressa me impedirá de obter o que preciso.
Haja paciência, bom humor e simpatia e qualquer situação aborrecida em África
se poderá tornar numa experiência digna de registo. Como esta.
Pelo menos vais ficando treinada com a paciência :)
ResponderEliminarMas o tipo do balcão tem razão: para quê arriscar a andar de avião se as condições não são as ideais?