quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Aprender pela experiência

Hoje aprendi algo importante. Graças ao meu chefe que, por motivos de ausência sua, me deixou a desafiante tarefa de apresentar o nosso trabalho a um grupo de parlamentares gregos. Políticos portanto. Com muito poucas noções técnicas e científicas do trabalho que desenvolvemos e, mais importante que isso, normalmente sem o mínimo interesse em perceber. Ok, fazer uma apresentação em público não é problema; algum talento natural, o gosto por falar e os anos de experiência ajudam muito. Mesmo quando tenho que enfrentar os dinossauros do ramo científico em que acabei de entrar sei o que espero e o tipo de questões que me podem colocar. Preparamo-nos mentalmente para isso, faz parte do treino. Com políticos a história é outra. Não os estou a julgar, apenas a constatar o facto que eles não têm que saber a parte técnica do meu trabalho, por isso é o meu discurso que se deve adaptar, devo expor as evidencias científicas que encontramos numa linguagem acessível e útil para o seu trabalho. Também aqui não há problema. São antes as questões mesquinhas e interesseiras que me causam transtorno, aquelas a que devo responder firmemente mas sem os ofender para representar bem a minha instituição, mesmo sabendo que não têm o mínimo fundamento científico ou utilidade prática. E foi o que fiz, claro. Respondendo à ignorância e passando ao lado das provocações. Aprende-se melhor pela experiência a lidar com estas situações.
Enquanto escrevo este texto lembro-me dos investigadores do Centro de Geologia de Roma, agora no banco dos réus por suposta negligência no aviso atempado da população de Abbruzzo antes do terramoto de 2009. E os decisores da administração pública e da protecção civil, o que fizeram para o evitar? Cientificamente é ainda impossível prever com exactidão a ocorrência de um terramoto, embora haja sinais anteriores. É função do cientista avisar destes sinais, como parece ter sido feito, mas a decisão de deslocar a população baseada em suspeitas que só poderão ser confimadas depois do evento ocorrer não é dele. A possibilidade de ser falso alarme é grande e os votos demasiado preciosos para perder com decisões corajosas mas talvez desnecessárias e, certamente, muito incómodas.

1 comentário:

  1. E os políticos gregos ficaram até ao fim da apresentação? Já ouviste a piada "Porque é que a Grécia não pede ajuda ao FMI? Porque não há um grego que trabalhe o suficiente para acabar de preencher o formulário de candidatura."

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