domingo, 9 de outubro de 2011

Sardenha

 

Gosto de ir a conferências, pela partilha de conhecimentos, pela sensação de pertença a um grupo científico e pela partilha de experiências com pessoas muito interessantes. As noites da conferência foram passadas em confraternização com estes colegas, a experimentar os sabores típicos da Sardenha encostadas à muralha do centro histórico de Alghero e com vista sobre a lua crescente a beijar o mar. Comi porcetto assado no forno, tamboril à moda da terra (monkfish em inglês e pescatrice em italiano), risotto de marisco e as famosas seadas (queijo frito com mel). Bebi Cannonau (vinho tinto), Mirto (licor de ervas) e um Passito sardo (uma espécie de moscatel). Aprendi a letra da famosa música "Bella Ciao", dos tempos da resistência Partisana contra os nazis e do "Cielito lindo" tão cantarolado na vizinha Espanha. Descobri que os homens sardos transportam uma faca no bolso para usar em qualquer ocasião, incluindo cortar o chouriço que nos sorri na mesa. Partilhei momentos de galhofa com a Ambra, a Carmen, a Ilaria, a Marji, o Clemens, o Gonzalo, a Itziar e o Franco, como se nos conhecêssemos há muito tempo. Não, não é o caso, mas a similaridade de experiências de vida aproxima-nos. 


Outra coisa boa das conferências internacionais é a viagem de campo, basicamente uma visita aos locais turísticos mais emblemáticos na região onde se realiza a conferência. Neste caso fomos visitar o Nurague Palmavera – ruínas de uma aldeia muito antiga do povo nuragi (descoberto apenas na Sardenha) composta de uma torre circular e praça de convívio feitas em pedra e madeira ao centro, rodeada de casas pequenas.  Visitámos também o Parco Naturale de Porto Conte e o Capo Caccia, reserva natural de maquis mediterrânico com falésias escarpadas que sobressaem magnificamente sobre o azul transparente do mar. 

Sem palavras :) :)

O Nuraghe

Ainda tivemos tempo para uma visita à quinta de produção de vinhos Stella & Mosca , cujos 650 hectares de vinha se estendem graciosas num horizonte plano e seco. 

 Vinhas a perder de vista

Os dois últimos dias da minha estadia na Sardenha passei-os a conduzir um Cinquecento por paisagens maravilhosas de colinas repletas de tufos de arbustos em escarpas rochosas sobre o mar Mediterrâneo. O tempo de sol e calor dos dias da conferência mudou entretanto para fresco e ventoso. Em Stintini, uma praia nos confins da região noroeste da ilha, o vento empurrava com tal força os grãos de areia fina e normalmente macia contra nós que nos arranhavam as pernas. O mar estava bravo, enrolava ondas que carregavam diferentes tons de azul dependendo da fase de crescimento ou rebentação. Do outro lado, a silhueta da Ilha Piana e da Ilha Asinina, onde habitam os burros (asino) de pelo branco e comprido endémicos da Sardenha.




A vila e a praia de Stintino

Um pouco mais a sul, passámos por Argentiera, terra abandonada e decadente dos tempos das minas de prata (argento), onde meia dúzia de velhotes se reúne no único café existente a meio da única estrada da aldeia e onde anúncios de venda de apartamentos apontam para casas destruídas com vidros partidos e o esqueleto de ferro à mostra.

Argentiera... deprimente

A minha última noite passei-a em Bosa; estava já a escurecer quando cheguei e o centro da cidade não me pareceu nada atractivo. Raios! Depois da estrada panorâmica e das manadas de vacas que tive que atravessar, não me apetecia nada passar a noite sozinha naquele sítio. Avancei mais uns quilómetros e avistei o mar na marina de Bosa, muito mais convidativo para uma passeata nocturna. Fiquei alojada num B&B com vista sobre o mar, uma parte do Rio Temo (o único rio navegável da Sardenha) e 5 lindos cães labrador ainda bebés que conheci na manhã seguinte. Boa escolha! E a luz do sol fez a cidade parecer muito mais bonita, com o castelo sobranceiro e os meandros do rio Temo.



 




De regresso a Alghero, descobri os recantos pitorescos desta cidade, tão catalã na língua e nos costumes. Reza a história que o povo de Alghero se revoltou contra o invasor - os catalães, mas que estes conseguiram expulsar os revoltosos e apenas os catalães podiam lá morar depois disso. Nesta cidade de nome provavelmente árabe, caminha-se na história em cima das muralhas que rodeiam o centro histórico, onde os bastiões se erguem altivos sobre o mar. A marina, enorme, acompanha-se ao longo da marginal onde palmeiras dançam ao vento.



Uma casa tipicamente árabe

A marina

 O bastião e as palmeiras

2 comentários:

  1. Obrigada por partilhares momentos e locais tão interessantes. Beijinhos! E belas fotos!

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  2. Olá Ita :) Obrigada. Beijinhos aos três

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