domingo, 22 de fevereiro de 2009

Bella Ispra!

O fim-de-semana foi cheio de emoções. Na 6ª feira à noite fomos dançar salsa para um bar escondido por trás do supermercado onde costumo ir. No bar estavam pessoas de todas as idades e vi miúdos e graúdos a dançar espectacularmente. Um menino de não mais de 12 anos a mexer-se como ninguém, casais de 50 anos a dar piruetas, jovens vestidos à "dread" a dançar com movimentos elegantes... fiquei fascinada! Nunca tinha visto tantos homens a dançar salsa tão bem! Sim, porque em Portugal ou eu nunca fui aos lugares certos, ou os homens portugueses não gostam de mostrar os seus dotes de dançarinos em público...

Sábado fui ver uma casa em Ranco, uma vila aqui perto, apenas para perceber a relação qualidade/preço. A vista sobre o lago era espectacular, mas não o suficiente para compensar o resto da casa...

Depois foi hora de apperitivo, uma tradição a que já me habituei. Antes do almoço ou do jantar, juntamo-nos num café a beber cerveja, sumo, cocktail... no preço da bebida estão incluidos uns acepipes, bastante diferentes do que costumamos ter em Portugal: pepino, tomate ou cenoura com maionese, uns folhados, às vezes até feijão ou esparguete com ovo, dependendo do local. Ah, e os amendoins não se tiram com a mão, tiram-se com uma colher antes de se porem na mão...

Domingo foi dedicado à exploração de Ispra, por uns cantinhos até então desconhecidos. Uma agradável surpresa que guardo para a posteridade.




sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

O Volvo do chefe

Na 5ª feira, todos nós que que trabalhamos no mesmo corredor fomos comer uma pizza à hora do almoço. Nós e algumas caras-metade, claro. Sentei-me ao lado de uma signora inicialmente desconhecida e muito simpática. No meio das apresentações ela lembrou-se que eu tinha telefonado para o seu gabinete de manhã e, por isso, tinhamos falado há poucas horas atrás. Eu, que nunca me lembro do nome das pessoas que atendem o telefone quando ligo a serviços, acreditei e fiquei aliviada por eu ter sido simpática ao telefone, por acaso a reclamação até não correu mal e não houve necessidade para exaltações.

No meio das conversas do almoço, faladas numa lingua que ainda pouco conheço e que toscamente falo, e através de gestos e olhares, percebi que esta simpática signora era a mulher do meu chefe. Fiquei muito contente por a conversa telefónica ter corrido bem... e depois ainda tive a oportunidade de regressar ao JRC no Volvo confortável e elegante do chefe e da sua esposa.

Agora posso dizer: sim, não tenho ainda bicicleta nem carro meu, mas andei no Volvo do chefe.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

2 semanas e meia...

... até parece o título de um filme, mas neste caso é só a contagem do tempo que estou em Itália. Com todas as novidades e confusões destas semanas, parece que já passou um mês!

Já começo a organizar-me melhor e a orientar os meus dias consoante as diversas actividades que quero experimentar e as pessoas com quem quero estar. O tempo parece acompanhar a minha mudança, em duas semanas já noto a diferença na duração do dia e saio do trabalho ao pôr-do-sol, escondido atrás das montanhas e a pintar um céu azul raiado de laranja. Para melhorar este cenário, à saída do JRC, uma desconhecida aproxima-se de mim e pergunta-me se quero uma boleia para casa. Eu sorrio e agradeço abertamente mas acabo por recusar, moro a 5 minutos de distância. Mas antes disso vou experimentar o meu Bancomat (cartão multibanco), faço o primeiro movimento bancário da minha história na Italia e sigo caminho.

Quando estamos longe de tudo o que conhecemos, todas estas pequenas coisas fazem a diferença, podendo tornar o dia mais ou menos memorável. Daqui a uns anos, quando estiver a balouçar na minha cadeira de verga, hei-de contar todas estas histórias aos meus sobrinhos e netos, hei-de contar-lhes como construí o meu castelo com as "pedras" que foram aparecendo no meu caminho (citando Fernando Pessoa).

À noite, fui experimentar a aula de danças latinas e vejo-me numa sala com mais homens que mulheres... estranho, em Portugal isto nunca aconteceu... mais um pouco e estou numa roda de pares a dançar ao som de comandos vocalizados pelo professor, dos quais neste momento só me lembro do passo 71. Sou mulher, tenho a vantagem de ser conduzida... mas apesar disso sei que troquei muitas voltas, tenho muito treino pela frente. Haja vontade, e essa depende só de mim.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Vistas de Ispra e arredores

Foresteria, a minha pequena casa (no 3º andar)
O meu quintal

A vista sobre os Alpes

Eremo di Santa Caterina del Sasso (a caminho de Laveno)

Villa Panza, Varese



sábado, 14 de fevereiro de 2009

10 de Fevereiro de 2009 – Osama e outras partes da história

Ao pesquisar na net as actividades culturais existentes em Ispra, deparei-me com uma sessão de cinema alternativo, organizado pelo clube “Donne de l’Europa”. Eu percebi logo que era um clube dirigido por mulheres, mas quando o Biagio viu que era o único homem na sala, ficou preocupado… e eu também, a pensar porque raio tinham posto o anúncio na internet se era reservado só ao clube, até que apareceu mais um corajoso. No final do filme, começou o suposto debate, mas também para mim eram demasiadas mulheres na mesma sala, daquelas que interrompem as outras quando se querem fazer ouvir. Saímos antes de acabar. Apesar disso, o filme valeu a pena. “Osama” conta a história de uma menina afegã de 12 anos que é obrigada a disfarçar-se de rapaz para ganhar o sustento da casa, composta por ela, pela mãe e pela avó (os homens morreram nas guerras), na altura em que os Taliban estavam no poder. O filme começa com uma frase de Nelson Mandela: “Posso perdoar, mas não posso esquecer”. E há tanto que perdoar! Osama arranja trabalho numa loja perto de casa mas entretanto é levada juntamente com os outros rapazes para a escola, onde aprendem o Alcorão, têm treino militar e aprendem outras lições de comportamento. Os outros rapazes desconfiam que ela é uma rapariga e, apesar de ela ser ajudada por um miúdo órfão e mendigo que sabia desde o início quem ela era, acaba por ser apanhada, é castigada e presa. Num tribunal de homens que pregam a justiça que lhes convém, enterram até ao pescoço e atiram pedras a uma suposta mulher adúltera, matam um jornalista estrangeiro e perdoam Osama… um perdão que vem com um casamento forçado.

O filme acaba sem um vislumbre de esperança e com aquela ideia na cabeça “Mas como é que isto é possível acontecer?”. Aconteceu, não há muito tempo, ainda acontece nalguns cantos do mundo. E eu sou testemunha, distante, mas ainda assim consciente.
Relembro agora os pedaços da História que eu tenho tido a possibilidade de viver, mesmo sendo só espectadora. Lembro-me da libertação de Nelson Mandela e da primeira vez que pesquisei o significado de “Apartheid”. Lembro-me do massacre no cemitério de Díli, do carismático Xanana Gusmão e do nascimento de Timor Lorosae. Lembro-me da queda das Torres Gémeas, a que assisti em directo pela televisão, do ataque à discoteca em Jacarta. Lembro-me de Yasser Arafat, da Guerra do Golfo, dos rockets a cair em Israel e das tropas israelitas na Faixa de Gaza. Lembro-me da entrada de Portugal na CEE (havia até uma música alusiva a isso) e da entrada do Euro. Lembro-me da Guerra no Iraque sob o pretexto das armas de destruição massiva. Assisti em directo à eleição do primeiro presidente americano preto, Barack Obama. Lembro-me da mediatização das Alterações Climáticas e da introdução do “Desenvolvimento Sustentável”. Assisti ao desenvolvimento acelerado dos computadores, dos telemóveis e dos automóveis. Em 30 anos de vida, tive que ganhar a capacidade de me adaptar constantemente e aprender a assimilar tão grandes acontecimentos. Eu e todos os outros que fazemos parte da história da Humanidade.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Visita a Varese

Ontem de manhã a chuva continuava a cair. Eu e a Chiara saimos de casa à procura de transporte para chegar a Varese, a cidade grande (cerca de 100 mil habitantes) mais próxima daqui, a cerca de 20 km. A caminho do centro de Ispra, parámos num supermercado e comprámos um utensílio crucial para a nossa sobrevivência aqui: um pequeno "ombrello" (chapéu-de-chuva) cuja primeira utilização constituiu um momento de grande felicidade para ambas, depois de quase uma semana a sofrer com a intempérie.

O centro de Varese é feito de ruas estreitas construidas com paralelos e outro material de tom acastanhado, gasto pelo tempo. De ambos os lados das ruas, incluindo na parte mais moderna da cidade, aglomeram-se lojas de estilos diversos. A primeira loja onde entrámos foi uma sapataria, à procura das botas para a neve que infelizmente não nos serviam. As lojas fecham duas horas para almoço, normalmente entre as 13h30 e as 15h30, por isso esperámos pela reabertura comendo uma lasanha e uma tarte de fruta fresca numa pequena galeria comercial. Ao final da tarde, depois de umas passeatas pela cidade, trouxe para casa um aparelho telefónico, uma varinha mágica (sinto falta da sopa), uma colher de pau (utensilio indispensavel na minha cozinha) e só não trouxe um cartão SIM italiano porque aqui exigem um cartão de identidade com fotografia para registar o número, o qual eu esqueci em casa.

O jantar foi em Angera, uma pequena vila a 10 km de distância de Ispra, com uma bela marginal à beira do lago com vista sobre Arona (uma vila na outra margem). Pedi uma pizza com ananás (porque gosto) e a Chiara e o Biagio ralharam comigo porque é uma pizza de estilo americano, não italiano. O final da noite foi passada no meu pequeno apartamento, a ver um filme no meu pc português e a beber café fraco feito à minha maneira (aqui bebem montanhas de café).

Hoje esteve um lindo dia de sol, que começou com uma corrida pela mata que envolve a minha residência. O almoço foi cozinhado pelo napolitano do prédio e começou com um prato de massa... claro! e terminou com um café fortissimo acompanhado de "panforti", um doce típico de Siena feito com frutos e muito açúcar. Um verdadeiro manjar ;)

6 February 2009

In the past few days, work has become more intense. After the meetings with the bosses I finally had a glimpse of what my tasks might be in the framework of the forest fire risk and the climatic influences. I’m glad I’m back to this topic, my experience is not very wide but it is intense and I really like it. Well, I like many different themes, my deepest scientific passion is to know how Earth works… and that is very diverse, isn’t it?
It all started in Australia, really, when I had to decide a topic for my final project in order to finish my master degree. I wanted to select something that was common to both countries, Australia and Portugal. Forest fire was the choice, a good choice.
It is funny how everything I have done before seems that somehow gets together to build this new path of my life. People with whom I’ve been in contact with these past years due to my personal interest in forests are partners of my JRC unit. The short but strong passage through this scientific field has provided me the chance to be now in Ispra. It seems like the universe has been conspiring all this time to lead me here and I can only be grateful for that.

Yesterday I went to the Club House, a place where we can eat, have a drink and access the internet. As I was sitting I heard the girl on the table next to me speaking in a familiar language; she is Portuguese, arrived in Ispra about 3 months ago and that works in the same building as me. There are a bunch of tugas around here, so I’ve heard… and they welcomed me today by email when my email address was added to the list.

Today it rained the whole day. It didn’t stop for a minute, the water drops were continuously falling down, sometimes less and many times stronger. I still didn’t have the chance to buy an umbrella so my sole protection is my long (and wonderful) anorak, which unfortunately doesn’t protect me from everything, particularly from the showers caused by running cars – I got a big one today, so big that the water from the road jumped the meter-high pedestrian sidewalk and showered me completely, as well as the groceries I had just bought in the supermarket…

The dinner was some sticky torteloni (I didn’t know I had to put some sauce…), a Portuguese-style salad, clementinas and mela (maçã). For me it was a kind of celebration: for surviving the first week, for reaching the weekend without a cold, for having the ability to start over whenever it is needed. Ah, and for succeding in my English proficiency exam, against all odds…

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

4 de Fevereiro de 2009

Nos últimos dois dias tem estado sol e o frio aguenta-se bem. Já não tomo a direcção errada quando caminho em direcção ao JRC, mas ainda me confundo dentro do centro. Demoro menos de 10 minutos desde a minha casa até à entrada do centro, mas mais de 10 minutos desde a entrada do centro até ao meu edifício, situado mais ou menos a meio do complexo. Não muito longe, avisto o cume das montanhas dos Alpes cobertas de neve, enquanto caminho por entre os espaços arborizados que abundam por aqui.
À entrada do meu gabinete está o meu nome escrito. Aqui não sou Sandra Oliveira mas Sandra Santos de Oliveira. O apelido proveniente da minha mãe ganha força. Só me importo pelo tempo que demoro a fazer uma “firma” – o que os italianos chamam à assinatura. No banco onde abri conta, e que existe dentro deste centro internacional mas onde os funcionários não falam inglês (felizmente o italiano é parecido com o português e lá fui entendendo o que me pediam), à primeira olhada ao meu nome souberam logo que era ibérica. Eu gosto de ter um apelido de cada um dos meus progenitores, apesar da confusão que causa no resto do mundo.
O meu conhecimento de italiano é, obviamente, muito escasso – por enquanto (o curso começa entretanto). Quando eles falam “piano piano” (devagarinho) consigo perceber quase tudo, mas quando aparecem palavras escritas demasiado diferentes ou, sendo iguais, têm outro significado, o resultado é para rir :) o meu almoço foi uma “minestra” (sopa) supostamente de “fava” mas com aspecto de grão de bico (até tinha bom aspecto), com uma pequena surpresa: pedaços de queijo bolorento gorgonzolla a flutuar. E esta, hein?

Depois do trabalho, que começa a ser intenso (tenho que provar que mereço estar aqui), fui com uns colegas ao centro da vila para o aperitivo: cerveja ou vinho e uns petiscos: “carote” (cenouras cruas) que se mergulham em maionese, pistáchios, “tarati” (bolos secos), “patatine” (batatas fritas)… um belo início de noite antes do regresso a casa, hoje uma casa quentinha depois de uma noite anterior sem água quente e sem aquecimento… pequenos percalços que foram resolvidos hoje de manhã, graças à eficiência dos funcionários relativamente aos pedidos dos estrangeiros. Nalgumas situações, é bom ser "d'estrero".

2 de Fevereiro de 2009

O dia amanheceu branco… os flocos de neve caíam leve mas constantemente, como pedaços de céu libertos que se espalharam pelo solo. Andei enterrada em 5 a 10 cm de neve durante as várias caminhadas que tive que realizar durante o dia e tomei uma importante decisão: comprar umas botas adequadas a este tipo de tempo, daquelas que não deixam a água infiltrar-se e gelar os pés. No próximo fim-de-semana já tenho programa (compras), eu e alguns dos outros “newcomers” ainda não habituados a estas lides.
Hoje foi um dia administrativo… apresentações para ver, papelada para preencher, contrato para assinar… burocracias necessárias para o bom desenvolvimento do meu trabalho e para receber as respectivas compensações.
Ao almoço – 2,20 Euros por um prato de massa, uma grande salada, água e sobremesa (!) -, juntando uma portuguesa, outra espanhola, uma italiana e uma alemã, analisámos geograficamente várias culturas através da experiência de cada uma: 8ºC e a chover em Agosto em Inglaterra e os ingleses usam sandálias, t-shirt e comem gelados… porque é Verão (não interessa se já está frio). O à-vontade dos finlandeses em correr nus para os lagos gelados nos entretantos dos vapores da sauna. O prazer dos italianos e dos portugueses com a comida. A preferência dos espanhóis por Portugal, daqueles que vivem na proximidade da raia ocidental espanhola. Os banhos de sol dos alemães no sul de Espanha, com apenas 15ºC…
Uma das coisas mais engraçadas de ser nómada é assistir em primeira-mão às reacções de diferentes pessoas aos mesmos estímulos, dependendo da sua origem, da educação que recebeu, das experiências que viveu. E o privilégio de sentir um arrepio na pele com algumas coincidências interessantes que vão acontecendo a mando do universo: um italiano de Nápoles que conhece a Batalha; um italiano de Bruxelas que ama Lisboa; uma alemã que teve um namorado português e que vai trabalhar para o meu departamento; uma caixa de cappuccino da Nescafé à minha espera no supermercado; neve, muita neve, como nunca antes vi, no meu primeiro dia de trabalho… pequenas coisas que tornam ainda mais emocionante a minha estadia aqui.

1 de Fevereiro 2009. Cheguei!…


… a Ispra, com 0ºC e um manto de neve a cobrir a maior parte do chão. O táxi do JRC esperava-me à hora marcada no aeroporto, levando-me direitinha a casa, um apartamento espaçoso (no meu ponto de vista) só para mim. O armário de roupa permaneceu quase vazio, mesmo depois de ter arrumado toda a bagagem (aquela que a TAP me obrigou a pagar por excesso de peso). A brancura luminosa das paredes e do chão lembra-me que esta casa será minha temporariamente, mas por enquanto basta-me saber que é o meu cantinho. Outros cantinhos como este me rodeiam, ocupados por colegas do centro que ainda não tive a oportunidade de conhecer. Aliás, conheci um, já desde Dezembro quando vim cá a primeira vez. A Chiara (leia-se Kiara), uma siciliana vinda de Londres, ofereceu-se para ficar com a minha chave para eu poder entrar nesta minha casinha ainda hoje. Jantámos juntas, o que pudemos trazer connosco do país de origem e do avião: waffles aquecidas no forno da casa dela, uma sandes da British Airways (bem melhor que as da TAP, por sinal), biscoitos tipicamente italianos com panne e cioccollato, biscoitos com travo a limão da loja da Irene na Batalha, água da torneira… tudo isto regado com uma boa conversa para conhecimento mútuo que fluiu naturalmente. Uma bela duma jantarada, no verdadeiro sentido do termo. Um primeiro dia inesquecível, não só por esta chegada mas também, e principalmente, pela minha partida acompanhada pelo núcleo duro da minha vida: os meus pais, os meus irmãos e a minha irmã. E uma despedida presencial de uma grande amiga, a quem muito devo eu estar em terras italianas hoje. E as despedidas via telefone que fui recebendo, de amigos que não esqueço, esteja eu onde estiver. De uma maneira ou de outra, todos eles estão comigo, agora e em todas as outras peripécias que vierem a seguir.