Passamos a nossa vida inteira a ouvir dizer que os europeus do sul, os latinos, são muito parecidos. Que entre espanhóis, italianos e portugueses, "venha o diabo e escolha" (no bom sentido). É verdade, se compararmos esta parte do mundo - o Sul da Europa - com o Norte do continente. Há coisas que distinguem os latinos dos restantes europeus, e passo a apontar apenas algumas: os atrasos, a condução, a fala expressiva, o gosto pelas danças ritmadas (e o jeito natural para dançar), a alegria de poder celebrar pela mínima razão... lembro-me de uma situação embaraçosa na Holanda, esse país de diferentes costumes onde vivi já lá vão 9 anos. Num dia frio de Outono, depois de uma viagem curta de bicicleta desde a minha casa, chego à porta da sala de aula (que ia ter pela primeira vez) 3 minutos depois da hora marcada. A porta estava fechada, coisa a que não estava habituada em Coimbra, onde se pratica o benevolente "quarto-de-hora académico". Bati à porta, entrei e o professor, sem saber quem eu era, disse automaticamente "Ola", porque para chegar atrasada, ou era espanhola ou era portuguesa, e "Ola" serve para ambos. Devo ter corado nesse momento, ao aperceber-me que a indisciplina associada à minha cultura me perseguia, e segui para a mesa do fundo calada que nem um rato. 2 minutos depois chegou o meu colega espanhol... um outro "Ola" irrompeu pela sala, mostrando que não se pode confiar nos latinos para chegar à hora marcada.
Não obstante estas semelhanças, que ao fim e ao cabo são muito engraçadas e das quais me acabo por orgulhar, as diferenças começam a notar-se quando partilhamos o dia-a-dia. São tantas as diferenças que às vezes parecem autênticos abismos. A comida é um deles; aqui não se come massa com mais qualquer coisa. Se queres comer massa, tudo bem, mas num "piato solo" e antes de tudo o resto. O acompanhamento para o "piato principale" (carne ou peixe) é facultativo, só pedes se quiseres (e pagas à parte). Não é de estranhar, depois de ter comido um prato de massa não é preciso comer muito mais. E os alimentos estranhos que nos aparecem... radicio (uma alface roxa e amarga), carciofo (alcachofra - este até conhecemos) ou finocchio (funcho), um vegetal de corpo branco e redondo com camadas como a cebola. Só me lembrava dos rebuçados de funcho que se encontram na Madeira, reconheci-o através do cheiro característico. E provei cru e em Minestrone (sopa) pela primeira vez. Já que estou na Itália, que me torne pelo menos um bocadinho italiana.
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