é uma das características mais evidentes de São Tomé e Príncipe. "Devagar, devagarinho", explicaram-me logo os são-tomenses que me abordaram no aeroporto. Em São Tomé reina a tranquilidade, apesar dos problemas estruturais do país. Um dos países mais pequenos do mundo, com cerca de 160 mil habitantes em menos de 1000 km2 divididos por ilhas, São Tomé beneficia de uma localização privilegiada mesmo à beirinha do Equador. Por isso, pelo clima e pela geologia, a terra é fértil, a floresta densa e as praias extensas, luminosas e bordejadas de coqueiros. Os são-tomenses são extremamente gentis e educados, muito hospitaleiros. Há até quem diga que os são-tomenses são uma espécie de portugueses mais exagerados, para o bem e para o mal: mais hospitaleiros e mais simpaticos, mas também mais formais e mais "deixa andar". Os são-tomenses adoram o seu país, chamam-lhe o paraíso no centro do mundo. E têm razões para isso. São Tomé é África, exuberante e colorida, naturalmente rica e humanamente desigual. E ao mesmo tempo com uma pitada (grande) da cultura portuguesa, na comida, na arquitectura, na maneira de agir. Uma experiência muito enriquecedora e inesquecível.
Marcas da presença portuguesa na cidade de São Tomé
A cidade de São Tomé tem estradas e edifícios razoavelmente cuidados, uma marginal longa e limpa, alguns cafés engraçados, como o Avenida, o Papa-figo e o Passante, a padaria Moderna com croissants quentinhos, restaurantes no Parque Popular onde servem feijão à moda da terra e frango assado, acompanhado de música ao vivo (Kizomba, claro!). Tem mercados caóticos, Hiaces amarelas como táxis e motoqueiros (ou mota-táxi). Tem 2 ou 3 hotéis de alto gabarito explorados maioritariamente pelo Grupo Pestana e uma fábrica de chocolate propriedade de um agrónomo italiano - Claudio Corallo, cujo cacau proveniente da sua plantação em Príncipe é transformado em chocolate gourmet exportado para lojas específicas na Europa, como o El Corte Ingles.
Saindo da cidade, o panorama muda. Barracos de madeira construídos sobre estacas concentram-se à beira das estradas esburacadas, onde correm crianças quase nuas, porcos e galinhas por entre bananeiras. Roupas coloridas são estendidas ao sol, trazidas à cabeça pelas mulheres depois da lavagem nos rios. As antigas plantações de cacau - as Roças, revelam uma atmosfera de abandono e de sobrevivência escassa, entre obras de importância arquitectónica e histórica (hospitais e senzalas).
Na Roça de Água Izé. O antigo hospital, um projecto arquitectónico de valor ao abandono
As praias são naturalmente bonitas, de águas cristalinas e ouriços-do-mar nas rochas, mas recentemente despojadas de areia que serve para a construção. Na floresta equatorial prolifera a temida cobra negra, de mordidela mortal. Nada que impeca os mais corajosos de as apanharem (apetrechados de botas de borracha e catana) para aproveitar a sua banha para medicamentos para o reumatismo. A caminho recolhem o sumo de palma, que em poucas horas se transforma em bebida extremamente alcoolica.
Na cascata de Bombaim
Na Roça de Bombaim
Praia de rocha em Água Izé
Boca do Inferno
Pico do Cão Grande, uma intrusão de fonolito, rocha muito resistente, numa chaminé vulcânica de basalto, mais vulnerável à erosão. O basalto desaparece e o fonolito mantêm-se, imponente. As palmeiras que bordejavam o pico foram recentemente cortadas.
No Ilhéu das Rolas, onde passa a linha do Equador
No centro do mundo, com um pé em cada hemisfério. O pé direito no Sul, para dar sorte.